Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - O governo brasileiro está avaliando, a pedido de associações de agricultores, o lançamento de contratos de opção de venda de café para os produtores, como forma de garantir receitas mínimas e reforçar os preços de mercado, disseram duas fontes familiarizadas com as negociações à Reuters nesta quinta-feira.
Se aprovado, o programa poderia impactar o comércio global de café, uma vez que estabeleceria um piso para os preços do produto no maior produtor e exportador mundial, provavelmente forçando os importadores a pagar mais pelo grão brasileiro.
A política também poderia influenciar os governos de outros países produtores, onde os cafeicultores enfrentam severas restrições financeiras, a adotarem mecanismos similares já que os preços de referência do arábica em Nova York estão em torno dos níveis mais baixos em 13 anos.
"Conversamos com o governo, eles (autoridades) receberam bem a ideia", disse à Reuters um diretor de uma das cooperativas de cafeicultores brasileiros, pedindo para não ser identificado porque as negociações ainda estão em fase preliminar.
"Seria um programa ganha-ganha. Os agricultores podem garantir preços melhores, e o governo pode mais tarde lucrar com as vendas desse café quando os preços se recuperarem", disse ele.
Uma segunda fonte, um consultor para produtores de café no Brasil sobre estratégias de venda, disse à Reuters que alguns de seus clientes comentaram sobre as conversas, mas disseram que ainda há detalhes a serem definidos, como o tamanho do programa ou o preço de exercício.
A fonte pediu anonimato porque as conversas sobre o assunto não eram públicas.
Não houve comentários imediatos do Ministério da Agricultura do Brasil.
O governo brasileiro já atuou no mercado de café no passado, intervindo com políticas para ajudar os agricultores a obter melhores preços quando os valores foram considerados abaixo ou próximos aos custos de produção.
As opções governamentais foram lançadas pela última vez em 2013, quando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ofereceu contratos para os agricultores venderem até 3 milhões de sacas ao governo a um preço fixo.
Nessa modalidade, um produtor de café paga uma pequena taxa pelo direito de vender seu café para o governo no futuro.
Se os preços de mercado quando as opções expiram estão abaixo do preço fixo definido para as opções, o produtor normalmente exerce seu direito de entregar o produto aos armazéns do governo.
Esse café é mais tarde vendido pelo governo em leilões no mercado a preços geralmente mais altos.
Um grande obstáculo para a aprovação de tal programa seria a necessidade de o governo desembolsar montante bilionário em um momento em que a nova administração busca controlar gastos públicos e reduzir um grande déficit orçamentário.
A primeira fonte disse que a ideia seria lançar as opções não este ano, mas em 2020, quando o Brasil deverá produzir uma safra maior devido ao ciclo de alta de produção bienal de café, que alterna anos de alta e baixa produção.
O Brasil está no ano de baixa da produtividade em 2019, e o governo espera que a produção caia para 50,5 milhões a 54,5 milhões de sacas de 60 kg em relação ao recorde de 61,6 milhões de sacas produzidas em 2018.
"Não faria sentido lançar as opções este ano, já que vamos produzir menos café e o programa poderá, eventualmente, beneficiar produtores de outros países", afirmou.
Os preços do café em Nova York atingiram uma nova mínima de 13 anos esta semana, à medida que a produção continua a superar a demanda no mercado global.
Os preços de arábica fecharam praticamente estáveis, a 95,30 centavos de dólar por libra-peso, nesta quinta-feira.
Alguns produtores de café em países com custos de produção mais altos, como na América Central, estão ponderando mudar para outras culturas com melhores receitas que o café.
(Reportagem de Marcelo Teixeira)