Por Karl Plume e Hallie Gu
CHICAGO/PEQUIM (Reuters) - Poucos dias antes de o acordo comercial entre Estados Unidos e China ser assinado, grandes compras de soja do Brasil pelo país asiático e uma série de medidas políticas inesperadas de Pequim reduziram as expectativas norte-americanas quanto a possibilidade de os chineses dobrarem as importações de produtos agrícolas dos EUA neste ano.
O presidente dos EUA, Donald Trump, citou a perspectiva de que a China compre 40 bilhões de dólares em produtos agrícolas norte-americanos em 2020 como um pilar do acordo de "fase 1", que visa amenizar a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
O conflito, marcado pelas tarifas retaliatórias, afetou fluxos de bilhões de dólares em bens e ameaçou desacelerar o crescimento global, abalando os mercados financeiros. Além disso, também atingiu a comunidade agrícola dos EUA, importante campo político para Trump, que buscará a reeleição em novembro.
A China anunciou nesta quinta-feira que o vice-premiê do país, Liu He, que liderou a delegação de Pequim nas negociações comerciais com os EUA, assinará o acordo de fase 1 na próxima semana, em Washington.
No entanto, compras futuras de soja brasileira pela China, que incluem aproximadamente uma dúzia de cargas adquiridas nesta semana, ou cerca de 800 mil toneladas, estão levantando dúvidas quanto ao apetite dos compradores asiáticos pela vasta oferta da oleaginosa norte-americana após a conclusão do acordo.
Segundo dois operadores com base na China, as margens para o esmagamento de soja na China melhoraram para meados de 2020, auge da temporada de exportação do Brasil. Eles acrescentaram, sob condição de anonimato, que as necessidades de importação da China para o primeiro trimestre já foram supridas.
"O fator-chave para os processadores é a soja estar barata, mesmo com um acordo comercial. Se a soja da América do Sul está barata, os compradores vão focar na soja da América do Sul", disse um dos operadores.
Nenhum detalhe sobre a meta de 40 bilhões de dólares em compras pela China foi divulgado, sendo que o país asiático sequer confirmou a existência de tal compromisso.
Aumentando as preocupações norte-americanas quanto ao pacto, fontes da China disseram à Reuters nesta semana que Pequim suspendeu planos para implementar nacionalmente uma mistura de 10% de etanol na gasolina neste ano.
O plano havia gerado expectativas de que os embarques do biocombustível dos EUA para a China aumentassem significativamente, bem como as exportações de milho norte-americano para a produção doméstica de etanol.
Gao Feng, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, disse nesta quinta-feira que há espaço para que a China amplie importações agrícolas junto aos EUA.
Mesmo assim, agentes do mercado questionam se o alvo de 40 bilhões de dólares pode ser atingido sem a aquisição de grandes volumes de uma ampla variedade de mercadorias.
"Uma meta tão grande torna o mercado muito cético quanto a tudo isso", disse Ted Seifried, estrategista-chefe da corretora norte-ameriana Zaner Ag Hedge. "Se a China for chegar a esses números, ou a qualquer valor próximo, o etanol terá que fazer parte do balanço."
Já Arun Sundaram, analista da CFRA Research, acredita ser mais provável que a China cumpra a meta anual dentro dos próximos três a cinco anos. Ele estima as compras chinesas de bens agrícolas norte-americanos ficará entre 15 bilhões e 20 bilhões de dólares em 2020.