SÃO PAULO (Reuters) - A falta de linhas de transmissão deverá limitar a expansão das usinas eólicas no Sul e principalmente no Nordeste do Brasil até 2020, disse nesta quinta-feira uma dirigente do setor, após o governo divulgar que o próximo leilão para contratação de novos projetos de geração será fortemente impactado pela falta de infraestrutura para escoar a energia produzida.
Uma nota técnica da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgada nesta semana aponta que está esgotada a capacidade da rede elétrica para receber novas usinas ao menos na Bahia, no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul, o que prejudicará investidores eólicos e de energia solar fotovoltaica.
No final de agosto, a Reuters já havia publicado alerta do diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Tiago de Barros de que o próximo leilão para novas usinas eólicas seria impactado pela falta de linhas para escoar a energia, o que limitaria substancialmente o número de projetos aptos à disputa.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, estimou que 90 por cento das usinas que se cadastraram para o certame deverão ser vetadas devido aos problemas com as linhas de energia.
"Inscrevemos 20 gigawatts em projetos para o leilão... desse total, a gente vai ter efetivamente margem de escoamento para cerca de 2 gigawatts", afirmou.
O leilão de energia de reserva, para geração solar e eólica, está marcado para 16 de dezembro.
Ela ressaltou ainda que o problema será duradouro, uma vez que sua solução depende da construção de novas linhas, muitas das quais ainda precisarão ser licitadas, e da retomada de obras paradas no Nordeste da espanhola Abengoa, que suspendeu as atividades no país após sua matriz entrar com pedido preliminar de recuperação judicial.
"Em 2017 vamos continuar com o mesmo problema. Começa a aliviar um pouco em 2018, quando começam a entrar algumas linhas leiloadas mais recentemente. Mas a gente só vai ter um panorama mais tranquilo a partir de 2020... agora a gente chegou no ápice do gargalo, mas não vai ter uma situação tranquila até lá", explicou a executiva.
Atrasos em obras da estatal Eletrosul, subsidiária da Eletrobras (SA:ELET3), também ajudaram a levar à atual situação de esgotamento da capacidade da rede em absorver novas cargas no Sul, segundo a nota técnica da EPE e do ONS.
Outro fator que ajudou a complicar o panorama da transmissão foi o insucesso das licitações de novos empreendimentos no setor desde 2013, a partir de quando parte significativa das concessões para construção de linhas oferecidas pelo governo em leilões não atraiu investidores.
Elbia disse que sua projeção de normalização do cenário a partir de 2020 leva em consideração uma melhoria do quadro nos leilões de transmissão --novos fracassos nessas licitações poderiam prolongar os problemas.
"O problema é que bem na hora em que a energia eólica cresceu vertiginosamente a transmissão caiu... houve um descompasso", afirmou.
(Por Luciano Costa)