Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Enquanto observam as primeiras floradas da nova safra brasileira de café, agricultores e analistas avaliam que uma floração mais generalizada nas principais áreas produtoras do Brasil ainda está para ocorrer, e só então será possível determinar o potencial da safra 2020 do país.
A florada geralmente fornece um indicativo do tamanho da próxima safra, sendo acompanhada de perto pelos participantes do mercado. Uma florada ampla e generalizada, seguida por tempo ameno e chuvoso, pode levar a uma grande produção. Por outro lado, as menores, acompanhadas de seca e calor, sinalizam uma produção menor.
"Houve algumas floradas especialmente na Mogiana, mas a ocorrência foi muito limitada nas principais áreas do sul de Minas e do Cerrado Mineiro", disse Carlos Mera Arzeno, analista de café do Rabobank.
A Mogiana é a principal região cafeeira do Estado de São Paulo, segundo maior produtor de arábica do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais.
"Grande parte dessa florada até agora foi perdida, mas ainda acreditamos que a colheita de arábica do ano que vem tem potencial para ser recorde se as chuvas voltarem nos próximos dias, até o final de setembro, como é esperado", afirmou.
De acordo com o Agriculture Weather Dashbord da Refinitiv, a região sul de Minas Gerais deve receber cerca de 70 milímetros de chuva até 10 de outubro.
O produtor Paulo Piancastelli, que administra 210 hectares na região do Triângulo Mineiro, disse que houve apenas uma florada muito limitada em sua área.
"A principal ainda está por vir", contou, acrescentando que o tempo quente e seco faz com que seja difícil para que as primeiras flores gerem frutos.
"Minha fazenda é irrigada, mas a maioria das pessoas por aqui não tem o equipamento", disse. "Em outras áreas, como o Cerrado Mineiro, a irrigação é mais generalizada".
"Acho que a maior parte dessa primeira florada abortará os frutos", disse o cafeicultor Julio Rinco, de São João da Boa Vista, na região da Mogiana.
Ele compartilhou lindas fotos da florada em sua fazenda, que aparentou ser significativa.
Rinco também possui fazendas em Minas, mas disse que a ocorrência por lá foi fraca.
"Ainda há muita incerteza quanto ao potencial da próxima safra", disse Fernando Maximiliano, analista da INTL FCStone.
"Está complicado, a gente chegou a ver floradas no café robusta, chegou a abrir algo no arábica, mas não foi a florada principal, que ainda virá."
Haroldo Bonfá, sócio da consultoria Pharos, afirmou que geralmente há três floradas a cada safra, e às vezes mais.
Ele disse que a previsão de chuvas para os campos de café nas próximas semanas é fundamental, uma vez que a precipitação pode levar a uma grande florada, principalmente em Minas Gerais.
(Reportagem de Marcelo Teixeira, com reportagem adicional de Roberto Samora)