Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - As importações brasileiras de fertilizantes, atrasadas neste ano devido ao cenário de custos mais elevados, deverão enfrentar um gargalo logístico nos portos neste semestre, ameaçando a entrega aos agricultores que deixaram para comprar o insumo pouco antes do plantio da safra de verão, em setembro.
A avaliação é da consultoria INTL FCStone, para quem a capacidade brasileira de importação de fertilizantes é insuficiente para atender a demanda pelo produto nos próximos meses, ainda que o consumo seja menor neste ano, em meio a juros mais elevados e desvalorização do real que encarece os produtos importados.
O Brasil, embora seja uma potência agrícola global, importa cerca de três quartos de sua necessidade anual de fertilizantes. No segundo semestre, os negócios tradicionalmente envolvem maiores volumes do que no primeiro.
A analista de fertilizantes da FCStone, Mony Belon, disse à Reuters ser "bem possível" que aqueles que deixaram para comprar o fertilizante na boca da safra, de última hora, fiquem sem receber o produto, por conta do atraso nas importações e dos problemas logísticos.
"Conforme está muito atrasada (a importação), mesmo prevendo redução da demanda, ela (a demanda) vai ser superior à capacidade de importação", disse Mony, lembrando que a venda de fertilizantes ao consumidor final recuou quase 10 por cento no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2014.
A FCStone estima que as vendas de fertilizantes vão se recuperar neste segundo semestre ante o primeiro, mas ainda assim devem cair 5 por cento ante o recorde de mais de 32 milhões de toneladas de 2014.
A consultoria estima a necessidade de importação mensal de fertilizantes para julho, agosto e setembro entre 2,7 milhões e 3,3 milhões de toneladas, "já acima da capacidade portuária brasileira".
"Pode haver uma queda maior que os 5 por cento (projetados para o ano) em função do problema logístico", acrescentou a analista. Segundo ela, a eventual falta do produto para abastecer os agricultores pode intensificar a redução esperada da demanda.
Além do custo mais alto dos fertilizantes devido ao câmbio, os preços dos produtos agrícolas não estão mostrando o mesmo brilho que elevou a rentabilidade dos agricultores nos últimos anos.
A analista ressaltou que a relação de troca entre adubo e importantes produtos, como soja e milho, está mais desfavorável ao agricultor neste ano.
No primeiro semestre de 2015, a relação de troca de fertilizante por soja ficou 36,8 por cento mais custosa para o agricultor do que no ano passado. Para o milho, a alta foi de 21,9 por cento.
A consultora lembrou que desde o início do ano as importações estão mais lentas, já que o setor iniciou o ano com estoques mais elevados e também por atrasos nas compras de agricultores menos capitalizados.
"Os distribuidores com estoques altos acabaram não importando mais produtos com uma folga maior de tempo... e como tem deficiência de armazenagem não importaram com antecedência em momento de menor demanda", disse.
CLIMA
O clima chuvoso também está afetando as operações em Paranaguá (PR), principal porto de desembarque de fertilizantes no Brasil.
"Os dados de 'line up' (de navios) de fertilizantes da semana anterior mostraram um forte aumento no tempo de espera nos portos, e as condições climáticas desfavoráveis têm feito a atividade de desembarque ser paralisada frequentemente", disse a FCStone.
Segundo a analista, há em Paranaguá mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes em espera para o desembarque, após dias de desembarques suspensos diante das chuvas intensas.
E a perspectiva é de que a região siga apresentando volume de chuvas acima da média este ano, o que pode gerar novas paralisações, acrescentou Mony.