SÃO PAULO (Reuters) - A Gerdau considera como sustentável o crescimento das exportações de aço produzido pela empresa no Brasil, diante da continuação da desvalorização do real contra o dólar, afirmou o vice-presidente financeiro da empresa, André Pires, nesta quarta-feira.
No quarto trimestre, as exportações de aço da Gerdau a partir do Brasil cresceram cerca de 31 por cento sobre os três meses anteriores e 1,3 por cento sobre os três últimos meses de 2013, para 381 mil toneladas.
"De fato as oportunidades de exportação continuam, entendemos que ao longo do primeiro trimestre a gente continua vendo essa perspectiva, principalmente considerando o enfraquecimento do real em relação ao dólar, que nos dá possibilidade de continuar trabalhando nesse mercado", disse Pires em teleconferência com jornalistas.
As ações da companhia exibiam alta de cerca de 5 por cento às 16h19, enquanto o Ibovespa mostrava recuo de 1,66 por cento.
Porém, a empresa não vê perspectiva para exportações relevantes de minério de ferro, com o preço da commodity tendo acumulado queda de mais de 50 por cento desde 2014, optando por dedicar sua mina à produção para atender a usina siderúrgica de Ouro Branco, em Minas Gerais, disse o presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter.
Segundo ele, antes da queda do preço do minério de ferro, a Gerdau trabalhava com um número de equilíbrio para viabilidade de exportações da commodity de entre 80 e 85 dólares a tonelada. O preço do minério de ferro recuou nesta quarta-feira para o menor nível em seis anos, a 62,10 dólares.
"As parcelas de custos caíram também, mas ainda não a ponto de poder se exportar nesse preço que está aí de minério de ferro", disse Johannpeter em teleconferência com analistas da companhia. "Só vamos retomar (exportações de minério) se ficar viável, tiver rentabilidade", acrescentou.
A empresa divulgou mais cedo resultado acima do esperado pelo mercado, embora marcado por queda de 20 por cento no lucro líquido do quarto trimestre sobre um ano antes, para 393 milhões de reais.
Analistas do JPMorgan consideraram os resultados da companhia como fortes por conta de uma performance acima da esperada nas operações da empresa no Brasil, que foram apoiadas pelo aumento das exportações e preços maiores. Porém, viram com preocupação um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) negativo da atividade de mineração no período, por causa dos preços menores da commodity.
Johannpeter afirmou que o grupo considera como positivo o enfraquecimento do real, por considerar que a moeda brasileira estava sobrevalorizada, afetando a competitividade da indústria nacional.
"Vemos com bons olhos e achamos que tem que se desvalorizar mais ainda", afirmou o executivo durante teleconferência com jornalistas. Atualmente, cerca de 60 por cento da receita da Gerdau é atrelada ao dólar.
A Gerdau voltou a reduzir sua previsão de investimentos, estimando para 2015 um orçamento de 1,9 bilhão de reais que ainda pode ser ajustado. Em 2014, a companhia já tinha investido 21 por cento menos que o que esperava aplicar, desembolsando 2,3 bilhões de reais. Em 2013, foram 2,6 bilhões.
"Ainda é muito cedo para estimar 2016", disse Gerdau ao ser questionado sobre a expectativa para o próximo ano diante dos prováveis efeitos das medidas de ajuste fiscal que estão sendo adotadas pelo governo federal no Brasil neste ano.
Segundo o executivo, cerca de metade do orçamento estimado para este ano é voltado para manutenção de equipamentos. A empresa não tem perspectiva de vender operações este ano, disse Gerdau, comentando que o ajuste no volume de investimentos ocorre com redução no ritmo de alguns projetos em desenvolvimento e de aprovação de novos empreendimentos.
A Gerdau está operando a 70 por cento de sua capacidade de produção de aço no mundo, disse Gerdau, com a proporção a 75 por cento em se tratando das operações no Brasil.
Sobre possíveis problemas com aumento de custos de energia no Brasil, Johannpeter comentou a analistas que a eletricidade "impacta cerca 5 por cento no custo final" da Gerdau e que a empresa tem alternativas de geração própria e que está trabalhando para evitar que a "inflação não corrija todos os nossos custos".
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal)