Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, terá reunião nesta segunda-feira para discutir a atual crise hidrológica no Brasil e seus rebatimentos com o executivo Pedro Parente, que em 2001 liderou a Câmara de Gestão da Crise de Energia (CGE) do governo federal.
Hoje chefe do conselho da empresa de alimentos BRF (SA:BRFS3), Parente foi escolhido na época pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) para comandar um comitê governamental com "super poderes" criado para lidar com um problema de escassez que levou a um racionamento de energia no país naquele ano.
O encontro entre o ministro e Parente será em São Paulo, a partir das 14 horas, segundo a agenda oficial do ministério.
"A pauta da reunião é a conjuntura hidrológica atual e o fornecimento de energia em 2021", disse a pasta à Reuters, em nota enviada pela assessoria de imprensa.
As conversas vêm dias após o governo ter emitido um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados, que seguiu-se ainda ao registro das piores chuvas em 91 anos entre setembro e maio.
Em meio a esse cenário, que pressiona a geração de energia no país, consultores começam a fazer cálculos sobre possibilidades de problemas de suprimento em 2021, enquanto o governo e órgãos técnicos do setor defendem que atravessar a atual situação exigirá flexibilizar restrições à operação de algumas hidrelétricas para guardar mais água nos reservatórios.
Essas flexibilizações dependem de autorização de órgãos como a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Ibama, e podem também gerar resistências políticas, uma vez que reduziriam a disponibilidade de água para outros usos.
Um exemplo disso veio na sexta-feira, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fazendo críticas ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) devido aos efeitos negativos de possíveis mudanças na operação da hidrelétrica de Furnas sobre setores como o turismo e a agricultura em Minas Gerais.
Um dos autores de um livro sobre o racionamento de 2001, o jornalista Roberto Rockmann disse à Reuters que o ministro poderá ouvir de Parente sobre como foi fundamental criar um órgão para liderar debates sobre a crise energética naquele ano.
No atual momento, um órgão semelhante poderia centralizar decisões sensíveis sobre o uso múltiplo das águas, explicou.
"A Câmara de Gestão da Crise de Energia foi essencial. E foi um órgão em que o Parente não contou só com gente do governo, ele teve assessores independentes... foi essencial para coordenar os esforços e resolver o problema."
Rockmann, que escreveu o recém-lançado "Curto-Circuito", sobre o racionamento, disse que antes de assumir o CGE Parente exigiu de FHC desde "poderes terminativos" até escolha sobre o nome do grupo.
"Os marqueteiros queriam que não tivesse crise no nome da Câmara, e ele bateu o martelo nisso, de que estavam vivendo uma crise e não adiantava esconder", contou.
Questionado pela Reuters, o ministério de Minas e Energia não respondeu especificamente se Parente será convidado a alguma função no governo diante da crise de energia. Não foi possível contato com o executivo.
(Por Luciano Costa)