SÃO PAULO (Reuters) - A empresa brasileira GranBio começou a produzir etanol de segunda geração usando celulose de biomassa de cana-de-açúcar em Alagoas, inaugurando uma era que poderá transformar a indústria de biocombustíveis no Brasil.
A unidade Bioflex 1, situada em São Miguel dos Campos, é a primeira usina de etanol de segunda geração a produzir em escala comercial no Hemisfério Sul, segundo a empresa.
O sistema usa como matéria-prima preponderantemente a palha da cana-de-açúcar, um subproduto da colheita praticamente sem valor e uso até então. Neste processo, mais moderno, são usadas enzimas para quebrar as cadeias da celulose da cana. No sistema tradicional, o etanol é produzido a partir do caldo da cana.
A fábrica custou 190 milhões de dólares, tendo sido construída em grande parte com financiamentos de Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que emprestou 300 milhões de reais para o empreendimento.
"É uma marco histórico não só para a GranBio, mas também para o Brasil, nós anunciamos um projeto inovador, transformador para a indústria de biocombustíveis...", disse nesta quarta-feira o presidente da companhia, Bernardo Gradin, em teleconferência de imprensa.
O Brasil (segundo produtor global de etanol atrás dos Estados Unidos) tem potencial de aumentar em 50 por cento a produção do biocombustível apenas com uso de palha e bagaço, sem necessidade de ampliação de canaviais, frisou a GranBio.
A produção brasileira de etanol deve atingir 27,6 bilhões de litros na temporada atual, segundo previsão do governo.
Esse aumento ainda seria em um processo de produção menos poluente.
O etanol de segunda geração da GranBio é o combustível produzido em escala comercial "mais limpo do mundo em intensidade de carbono", disse a empresa, ressaltando ter comprovação do Air Resources Board (ARB), da Califórnia.
O cálculo leva em conta as emissões de CO2 desde a coleta da matéria-prima, passando pelos insumos e consumo de energia, até o transporte e distribuição em porto da Califórnia.
COMPETITIVIDADE
A nova unidade começou a produzir há dez dias.
Segundo Gradin, a Bioflex deverá funcionar a plena carga em até um ano, mas esse cronograma poderá ser antecipado.
"Esperamos que o etanol 2G produzido pela Bioflex, subsidiária da GranBio, seja bastante competitivo com o etanol de primeira geração já no início do ano que vem", afirmou ele.
A meta é de que o custo de produção do etanol de segunda geração seja 20 por cento mais baixo que o do biocombustível de primeira geração. O índice deverá ser alcançado quando a unidade estiver operando com toda a capacidade.
A Bioflex tem capacidade inicial de produção de 82 milhões de litros de etanol por ano. Pela localização da unidade, no Nordeste, mais perto do Hemisfério Norte, Gradin disse que ela está em condições privilegiadas para vendas externas. Ele estima que 50 por cento da produção poderá ser exportada.
A GranBio tem plano de construir mais dez unidades de etanol de segunda geração, sendo que as próximas deverão ser em sociedade com outras empresas, segundo Gradin.
A meta da GranBio até 2022 é de produzir 1 bilhão de litros de etanol, com investimentos de projetados de 4 bilhões de reais no período.
COGERAÇÃO DE ENERGIA
A empresa tem parceria com o Grupo Carlos Lyra, que detém usinas de cana em Alagoas, para o fornecimento de matéria-prima, além de utilizar enzimas produzidas pela dinamarquesa Novozymes.
O Grupo Carlos Lyra ainda é parceiro da GranBio no sistema de cogeração de vapor e energia elétrica, que teve investimentos totais de 75 milhões de dólares.
Instalado ao lado da Bioflex 1, o sistema de cogeração é alimentado com bagaço de cana e lignina --subproduto gerado no processo de produção do etanol de segunda geração.
Segundo a empresa, essa é uma "solução inédita de bioenergia no Brasil, pois é a primeira vez que a lignina será usada para esse fim na indústria sucroalcooleira".
A caldeira do sistema de cogeração permanecerá em operação durante onze meses no ano, o equivalente a oito mil horas, no período de safra e entressafra da usina Caeté, do grupo Carlos Lyra.
Além de atender às necessidades das duas fábricas, a caldeira gerará um excedente de energia elétrica da ordem de 135.000 MWh/ano, o suficiente para abastecer uma cidade de 300 mil habitantes, que será comercializado, tornando-se uma fonte de renda para as empresas.
(Por Roberto Samora)