Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A greve de trabalhadores da Petrobras (SA:PETR4) interrompeu ou reduziu a produção de petróleo em diversas plataformas desde domingo, segundo informações de sindicatos, mas até o momento não afetou a operação de refinarias nem o abastecimento de combustíveis no país, informaram fontes à Reuters.
Apesar da greve, a ação preferencial da Petrobras fechou em alta de 9,99 por cento. Isso em uma sessão em que os contratos futuros do petróleo Brent encerraram com ganhos de 3,59 por cento, com operadores no exterior citando preocupações com a paralisação que atinge a estatal brasileira.
Na Bacia de Campos, o movimento grevista atinge atualmente 45 unidades marítimas da estatal, entre plataformas, sondas de perfuração e Unidade de Manutenção e Serviço (UMS), segundo levantamento do Sindipetro Norte Fluminense (Sindipetro-NF).
Das 45 unidades em greve, 29 estão com as atividades completamente paralisadas (26 plataformas e 3 UMS), outras sete estão com produção restrita e nove tiveram a operação assumida por equipes de contingência da Petrobras.
Os sindicatos ainda não conseguiram contabilizar os impactos na produção nesta terça-feira, segundo explicou o diretor de comunicação do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.
Entretanto, o sindicato havia estimado que a greve reduziu a extração em 500 mil barris de petróleo entre domingo e segunda-feira, o equivalente a cerca de 25 por cento da produção diária da estatal.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) informou nesta terça-feira que, no momento, não há risco de desabastecimento. "Caso haja, a ANP tomará as medidas cabíveis", afirmou a agência em nota.
A informação foi confirmada pelo setor privado. O diretor de Mercado e Comunicação do sindicato nacional das distribuidoras (Sindicom), Cesar Guimarães, disse que, até o momento, o movimento não impactou o abastecimento de combustíveis no país.
Além disso, uma fonte graduada da Petrobras afirmou à Reuters que todas as refinarias estão operando normalmente e que a empresa tem estoques de combustíveis para "vários dias", o que afasta qualquer risco de desabastecimento.
A assessoria de imprensa da Petrobras não retornou pedidos de comentários sobre a greve nesta terça-feira.
IMPACTOS NA RECEITA
Consultores ouvidos pela Reuters estimaram que o volume de redução da produção da Petrobras apresentado pelos sindicatos entre domingo e segunda poderia implicar em perdas na receita para a empresa de ao menos 25 milhões de dólares por dia, considerando o preço do barril de petróleo Brent, referência no mercado global, a 50 dólares.
"(Nesse cálculo), estamos falando só sobre o que ela deixou de arrecadar pelo valor da mercadoria, fora as margens, que é difícil de calcular porque depende de cada produto, mas no mínimo foi isso", afirmou o sócio-diretor da consultoria DZ Negócios com Energia, David Zylbersztajn.
O mesmo cálculo foi feito pelo presidente da J Forman Consultoria, John Forman, com base em relatos de redução da produção divulgados pela federação dos trabalhadores.
De acordo com o coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel, nas primeiras 24 horas, a greve fez com que a Petrobras deixasse de produzir 500 mil barris de petróleo, sendo 450 mil na Bacia de Campos.
A produção de petróleo da Petrobras no Brasil em setembro foi de cerca de 2 milhões de barris por dia.
Segundo sindicatos, também há relatos de adesão à greve nas refinarias da Petrobras de Cubatão (SP) e na Bahia.
A paralisação dos funcionários filiados à FUP tem como principal objetivo protestar contra o plano de desinvestimentos da Petrobras.
A propósito, o consultor Zylbersztajn, que já foi diretor-geral da agência reguladora do setor de petróleo no Brasil (ANP), questionou a postura dos sindicalistas em relação à greve, no atual cenário de dificuldades da petroleira.
"Na situação atual da empresa, essa greve não é nem um tiro no pé, é um tiro na cabeça... a empresa está em uma situação bastante crítica em termos de receita, não adianta mandar fazer isso ou aquilo, não tem dinheiro... eu não acho que uma greve seja a melhor saída", disse Zylbersztajn à Reuters.
FORA DE OPERAÇÃO
A FUP, que tem 12 sindicatos de petroleiros associados, incluindo o Sindipetro-NF, responsável por mais de 70 por cento da produção de petróleo no Brasil, entrou em greve no domingo.
Já a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que representa cinco sindicatos, iniciou o movimento na última quinta-feira.
O coordenador-geral da FUP, José Maria Rangel, afirmou à Reuters que a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), a primeira refinaria nacional de petróleo, chamou a Polícia Militar da Bahia para tentar "desestabilizar o movimento", na noite de segunda-feira e madrugada desta terça.
Na ação policial, o representante dos funcionários no Conselho de Administração da Petrobras, Deyvid Bacelar, foi preso por algumas horas nesta madrugada.
Segundo relatos de sindicalistas, Bacelar foi preso por suposto desacato ao tentar solucionar um conflito entre militantes e a polícia.
Em nota divulgada na noite de segunda-feira, a Petrobras disse que "está avaliando os impactos das mobilizações dos sindicatos".
A Petrobras disse anteriormente que está tomando medidas para manter a produção e o abastecimento do mercado. Entretanto, não comentou as paradas de produção e o conflito entre policiais e sindicalistas na Rlam.
(Com reportagem adicional de Gustavo Bonato em São Paulo e de Barani Krishnan em Nova York)