Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - As hidrelétricas do Nordeste do Brasil devem receber em outubro apenas 33 por cento da média história de chuvas para esta época do ano, o que pode levá-las a encerrar o mês com reserva de água no mesmo nível de 2001, ano em que o país passou por racionamento de eletricidade, segundo relatório do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgado nesta sexta-feira.
As projeções do órgão para o nível dos lagos das usinas da região ao final deste mês variam de um máximo de 8,9 por cento a um mínimo de 8,4 por cento --mesmo número registrado no final de outubro de 2001. Naquela época do racioamento, no entanto, havia menos infraestrutura de transmissão para que uma região pudesse socorrer a outra, como acontece atualmente.
Segundo dados do ONS compilados pela comercializadora de energia Comerc, o sistema brasileiro conta atualmente com apenas 31 por cento da água que os reservatórios das usinas poderiam armazenar, dos quais apenas dois pontos percentuais estão no Nordeste.
O Sudeste, conhecido entre especialistas como "caixa d'água do sistema", concentra 22 pontos percentuais em suas hidrelétricas, contra 5 pontos no Sul, onde concentram-se atualmente as chuvas mais favoráveis, e 2 pontos no Norte.
Com falta de água, o Nordeste tem sido socorrido pelo envio de energia de outras regiões do país e pelas usinas eólicas.
"As eólicas estão gerando praticamente a mesma quantidade de energia que as hidrelétricas no Nordeste. Elas têm sido muito importantes para evitar um racionamento na região", afirmou à Reuters recentemente o presidente da Chesf, do Grupo Eletrobras (SA:ELET3), José Carlos de Miranda.
Na quinta-feira, por exemplo, as eólicas produziram mais que as hidrelétricas no Nordeste --2,78 gigawatts, contra 2,73 gigawatts. O suprimento, no entanto, foi garantido com a ajuda de termelétricas, que produziram 3,2 gigawatts, e do recebimento de 1,42 gigawatts em energia do Norte e Sudeste, segundo boletim do ONS.
PROJEÇÕES DE CHUVA E CARGA
As chuvas nas áreas dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil em outubro devem ficar em 93 por cento da média histórica, segundo o ONS, que reduziu projeção anterior de 94 por cento.
O órgão também espera uma queda de 3 por cento na carga de energia do sistema brasileiro em outubro na comparação anual, ante uma previsão de queda de 3,2 por cento divulgada na semana passada.
Apesar da retração, puxada por uma queda esperada de 8,2 por cento na carga do Sul e de 4,3 por cento na do Sudeste e do Centro-Oeste, as regiões Norte e Nordeste ainda apresentam crescimento de consumo, em 9,7 por cento e 1,5 por cento, respectivamente, na comparação annual.