Anett Ríos.
Havana, 14 mar (EFE).- A carne de porco, o principal alimento das mesas cubanas, escasseia nos mercados estatais desde janeiro após uma queda de quase 70% de sua disponibilidade por problemas de produção e "conciliação" entre o Ministério da Agricultura e a indústria alimentícia.
"O processamento de defumados na capital praticamente foi paralisado e as entregas para a venda diminuem. O porco produzido pelo Ocidente fica abaixo do necessário e o que chega do centro do país também", publica a imprensa oficial.
Parte da imprensa cubana criticou nos últimos dias a alta dos preços e a deficiente comercialização desse produto desde o início de 2012, após as grandes vendas de dezembro por ocasião das festas de fim de ano.
O porco é o prato principal da comida crioula cubana, e por tradição é servido assado nas festividades de Natal e Ano Novo junto a outros pratos como mandioca com molho e arroz com feijão.
O jornal "Granma", porta-voz do Partido Comunista de Cuba, afirmou nesta quarta-feira que os mercados estatais de Havana se abastecem agora com um décimo dos volumes disponíveis no final de 2011, e existem casos de locais que não vendem carne desde 31 de dezembro.
Cubanos consultados pela Agência Efe em Havana confirmam que o produto escasseia nos mercados estatais, mas que pode ser encontrado nos chamados "agromercados de livre oferta e procura" a preços que inclusive duplicam o máximo estabelecido pelo Governo.
"A carne sobra, o que as pessoas não têm é dinheiro para comprá-la", comenta um vendedor em um mercado central da cidade.
Há opiniões que indicam que o aumento atual da demanda também estaria relacionado com a proliferação dos negócios particulares de venda de comida, após a abertura do setor privado impulsionada pelo Governo em setembro de 2010.
Durante a crise econômica após a queda do bloco soviético nos anos 90 se tornou comum que algumas famílias improvisassem "currais" urbanos para criar esses animais em varandas, banheiros ou pequenos pátios para atenuar a escassez de alimentos.
"O porco, Mamífero Nacional. Um monumento devem lhe dar", diz um refrão popularizado em 2011 pela dupla musical cubana Buena Fe.
O jornal "Granma" ressalta que o problema atual não está na distribuição da carne, mas "na insuficiência dos volumes", "nas entregas desequilibradas" e na "não conciliação oportuna" dos planos de trabalho entre as empresas do Ministério da Agricultura e a indústria alimentícia.
"A Agricultura cumpre seu compromisso de entregar à indústria, e esta, apesar de distribuir todo o porco que chega, descumpre com o comércio em nível nacional, porque os dois organismos conceberam janeiro com mais de mil toneladas de diferença", explica.
O diretor do Grupo Empresarial Porcino, Norberto Espinosa, disse ao jornal que no primeiro trimestre do ano "sempre acontece um buraco produtivo", mas na crise atual o fato é que os criadores privados "preferem cada vez mais vender a particulares e não ao Estado, pois os primeiros oferecem preços mais tentadores".
No entanto, o jornal questiona que em dezembro o Grupo Empresarial Porcino entregou mais de 14 mil toneladas de carne de porco à indústria alimentícia, enquanto em janeiro só planejou cerca de 4.545, uma queda de quase 70%.
Segundo dados oficiais, o rebaixamento no crescimento previsto do Produto Interno Bruto cubano em 2011 aconteceu entre outras causas pelo aumento da importação de alimentos já que a produção de alguns produtos básicos como feijão, banana, carne de porco ou leite fresco foi inferior à programada.
O Governo do presidente Raúl Castro considera de "segurança nacional" a reativação da agricultura para aumentar a produção porque o país gasta mais de US$ 1,5 bilhão ao ano ao importar 80% dos mantimentos que consome.
O "Granma" pede que o acontecimento com a carne de porco no "lamentável primeiro trimestre" do ano sirva de exemplo para não ter que "voltar a escutar o conto dos três porquinhos" no próximo período. EFE