Por Bruno Federowski
BRASÍLIA (Reuters) - A indústria de cana-de-açúcar do Brasil, na quinta-feira, manifestou preocupação quanto às políticas adotadas pelo Paquistão e pela Índia para proteger produtores locais e impulsionar as exportações de açúcar, argumentando que esses países poderiam depreciar ainda mais os preços globais.
O Paquistão, cujo tamanho como produtor de açúcar tem crescido nos últimos anos, quadruplicou em janeiro o volume de açúcar elegível para subsídios à exportação para 2 milhões de toneladas, em uma tentativa de reduzir uma oferta doméstica excessiva.
Eduardo Leão de Sousa, diretor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), disse que a entidade avalia se essas práticas estão de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"Comunicamos nossas preocupações ao governo brasileiro", disse ele à Reuters. "Estamos falando com o nosso governo e com outros países sobre a possibilidade de ação na OMC."
Os subsídios à exportação podem levar os produtores paquistaneses a mudar do arroz para o açúcar, aumentando permanentemente a oferta global e reduzindo os preços, disse ele.
Esse foi o caso da Tailândia, que cresceu até se tornar o segundo maior exportador de açúcar do mundo graças ao controle de preços.
Em janeiro, o governo tailandês eliminou o controle doméstico dos preços do açúcar e a administração de vendas como parte de uma revisão regulatória para resolver um desafio brasileiro na OMC.
O Paquistão deve produzir 6,5 milhões de toneladas de açúcar na temporada 2017/18, que se encerra em 30 de setembro, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Em comparação, a produção da Índia, segundo maior produtor do mundo, deve atingir o recorde de 29,5 milhões de toneladas, com os preços locais já caindo mais de 17 por cento nos últimos seis meses.
Enfrentando um excesso de oferta doméstica, a Índia cortou um imposto de exportação de 20 por cento e permitiu nesta temporada que usinas exportadoras de açúcar importassem açúcar bruto isento de impostos pelas próximas duas temporadas até setembro de 2021.
Mesmo sem taxas, no entanto, os altos custos de produção significam que a Índia deve sofrer para exportar com preços competitivos.
"Se a safra recorde se materializar, esperamos que o superávit vá para o mercado com subsídios", disse Sousa.
(Reportagem adicional por Jake Spring)