Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Os amplos volumes de chuvas em Estados da região Sul, como Paraná e Santa Catarina, têm gerado preocupação entre produtores rurais devido ao atraso no plantio das safras de soja e milho verão, e impactos negativos sobre a qualidade das lavouras.
As precipitações ainda prejudicam cultivos de trigo que estão em fase de colheita, conforme representantes do setor.
O Departamento de Economia Rural (Rural) reduziu nesta terça-feira suas avaliações sobre qualidade da safra do Paraná, tanto para as lavouras de soja e milho verão, que estão sendo semeadas, quanto para o trigo que está em fase de colheita, em momento em que partes do Estado são atingidas por chuvas volumosas.
Os trabalhos de semeadura apresentam um atraso em relação à média e o órgão ligado ao governo estadual já considera, inclusive, a possibilidade de replantio em algumas áreas da primeira safra 2022/23.
"A condição de lavoura piorou mais especificamente na região sudoeste, que foi castigada com um volume de chuva muito acima do normal e isso causou um desenvolvimento irregular das lavouras, e possivelmente pode gerar até replantio nesta região", disse à Reuters o analista do Deral Edmar Gervásio.
Ele ponderou, no entanto, que as condições ainda são boas para a maioria das lavouras de soja e milho.
De acordo com o departamento, 95% das áreas cultivadas com a oleaginosa são consideradas boas, contra 98% na semana anterior. As lavouras avaliadas como médias passaram de 2% para 3%, e agora 2% das áreas foram classificadas como ruins.
No caso do milho verão, as lavouras boas caíram de 91% para 86% no comparativo semanal. Áreas em condição média, que eram 9%, estão em 12%; 1% passou a ser vista como ruim.
Neste período, o plantio evoluiu pouco, com trabalhos limitados pelas precipitações.
A semeadura de soja avançou sete pontos percentuais em uma semana, até segunda-feira, para 33% das áreas. No milho, o crescimento foi de apenas 3 pontos, para 78%, mostraram os dados.
Um ano antes, o plantio de soja estava em 38% e o de milho em 88%, de acordo com o Deral.
"Hoje temos um atraso, em média no Estado, especialmente do plantio da soja. Contudo a região oeste está com o plantio adiantado", disse Gervásio.
Levantamento do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) mostra que no sudoeste do Estado a chuva alcançou a máxima de 275 milímetros. Em regiões mais a oeste, a precipitação ficou entre 150 e 175 milímetros, e nos arredores da cidade de Cascavel, 125 milímetros.
Analistas de mercado têm ressaltado que as condições climáticas paranaenses estão limitando o avanço da média nacional no plantio de soja e milho 2022/23. A expectativa é que o tempo se firme na próxima semana no Estado.
Em Santa Catarina, o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, disse em nota que desde o ano de 2014 não eram registrados tantos dias chuvosos como em setembro e outubro de 2022.
Segundo a entidade, alguns municípios do Estado tiveram, em 24 horas, cerca de 300 milímetros de precipitações.
"Com isso, começamos a imaginar que teremos problemas futuros de quebra de safra, pois, afinal de contas, há mais de 30 ou 40 dias tem milho plantado e poucos dias foram de sol", afirmou Barbieri.
TRIGO
Nas regiões de trigo no Paraná, segundo Estado produtor do país atrás do Rio Grande do Sul, a situação causada pela chuva é ainda mais crítica.
A colheita evoluiu 4 pontos na última semana, para 54% das áreas, mas estaria pelo menos 10 pontos percentuais à frente, não fossem as chuvas excessivas, calcula o especialista do Deral para trigo, Carlos Hugo Godinho.
Neste contexto, ele acredita que, certamente, as últimas lavouras colhidas e as próximas terão prejuízos em termos de qualidade.
Na avaliação do departamento, as áreas consideradas boas caíram de 69% para 60%, as médias foram de 24% para 28% e 12% passaram a ser classificadas como ruins, contra 7% na semana passada.
A Faesc, por sua vez, alertou sobre a ocorrência de pragas e doenças nas lavouras de trigo de Santa Catarina em função da chuva, com destaque para a volta da doença fúngica chamada giberela que diminui a produtividade do cereal.
“E, infelizmente, a previsão do tempo indica mais chuva para essa semana. Com isso, vamos começar a fazer levantamentos, pois teremos problemas nesta safra, que teve um custo de plantio muito alto e que se não tiver uma boa performance, com certeza, os produtores terão muitos prejuízos”, acrescentou o representante da federação.