SÃO PAULO (Reuters) - A liquidação financeira do mercado de curto prazo de eletricidade referente a julho e agosto registrou uma inadimplência recorde de 56,34 por cento, o que representa 2,4 bilhões de reais, dos 4,27 bilhões de reais envolvidos na operação, informou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) nesta quinta-feira.
Segundo a CCEE, a maior parte do calote, ou 2,2 bilhões de reais, deve-se à obtenção de liminares por agentes do mercado que se protegem do déficit de geração das hidrelétricas, prejuízo este que seria rateado não fossem as decisões judiciais provisórias.
De acordo com a CCEE, se desconsideradas as liminares, a inadimplência real seria de 4,72 por cento do total envolvido na operação.
O mercado esperava um "rombo" de até 90 por cento, depois de a última liquidação, realizada em setembro, registrar uma inadimplência de quase 50 por cento e a CCEE enfrentar um número cada vez maior de liminares por parte das empresas.
"É menos ruim do que se imaginava, mas não é para comemorar", afirmou à Reuters o presidente da comercializadora de energia Comerc, Cristopher Vlavianos.
Para o especialista, o temor em relação à inadimplência fez com que as empresas negociassem energia com desconto no mercado livre para não ter créditos a receber na liquidação da CCEE, o que provavelmente ajudou a reduzir a inadimplência.
"Diminui o próprio valor envolvido na liquidação. A expectativa era de que fosse por volta de 5 bilhões de reais", disse Vlavianos.
Para Andrew Frank, presidente da comercializadora América Energia, a situação do mercado é "insustentável" se as liminares seguirem em vigor.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tenta costurar um acordo para compensar parcialmente as perdas das hidrelétricas com a seca, em troca de as empresas retirarem as liminares. Mas as negociações vêm se arrastando e causando incertezas quanto às liquidações na CCEE.
As liquidações da CCEE promovem pagamentos e recebimentos entre as empresas do setor, com a liquidação de diferenças entre energia gerada ou consumida em relação aos montantes contratados.
Empresas que produzem acima do previsto, como termelétricas da Petrobras (SA:PETR4), que estão ligadas em plena carga, costumam ser as maiores credoras nas liquidações, segundo especialistas.
(Por Luciano Costa)