SÃO PAULO (Reuters) - O preço teto do leilão de reserva de 28 de agosto, que contratará apenas usinas solares fotovoltaicas, foi bem recebido no mercado, que espera disputa acirrada e vê o novo patamar alinhado às mudanças que impactaram o custo dos projetos, como o novo cenário macroeconômico e a desvalorização do real.
O valor limite para a energia gerada pelos projetos foi definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 349 reais por megawatt-hora, 33 por cento acima do praticado no primeiro leilão para as usinas fotovoltaicas, em outubro passado.
"O preço dá um sinal positivo do interesse do governo federal em desenvolver a fonte solar fotovoltaica como relevante na matriz nacional. Estamos confiantes para o leilão... com certeza a competição vai ser bastante acirrada", disse à Reuters o diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Rodrigo Sauaia.
O diretor-executivo de sustentabilidade da E&Y, Mário Lima, esperava um preço mais próximo do praticado no último certame, e viu o valor estabelecido como uma surpresa positiva.
"Veio bem acima do esperado. Existe uma margem para o mercado poder absorver tanto o aumento do dólar quanto o do custo-Brasil", disse Lima, que cita maiores dificuldades de financiamento como um dos fatores macroeconômicos que reflete nos custos da energia solar.
"A taxa de retorno vai ser interessante, acho que vai ser melhor do que em alguns projetos que foram apresentados no primeiro leilão", comentou Lima.
O real perdeu cerca de 38 por cento frente ao dólar desde 31 de outubro de 2014, quando foi realizado o primeiro leilão solar do Brasil.
A disparada do dólar acendeu preocupações no mercado, uma vez que a maior parte dos equipamentos para os projetos será importada.
Além disso, o setor elétrico tem visto maior dificuldade na liberação de financiamentos pelo BNDES, fator que pegou alguns empreendedores de surpresa.
"A rentabilidade desses projetos, mesmo em um cenário com BNDES e (uso de recursos do) Fundo Clima, não é tão espetacular assim.... mas a maioria dos projetos tem nomes grandes e bons por trás. Pode ter um ou outro ali que vai ficar (sem entregar), mas a maioria vai (ser concluída)", disse à Reuters na semana passada o chefe de Project Finance do Itaú BBA, Marcelo Girão.
O diretor do Itaú afirmou que, nesse cenário, passa a fazer mais sentido para os investidores avaliar modelos de negócio que não incluam o uso de empréstimos do BNDES.
"O binômio painel importado com financiamento mais caro talvez já faça mais sentido que painel nacional mais caro e financiamento mais barato do BNDES", disse Girão.
(Por Luciano Costa)