Por Gloria Dickie
BAKU (Reuters) - O aquecimento das áreas úmidas tropicais está liberando mais metano do que nunca, segundo pesquisas -- um sinal alarmante de que os objetivos climáticos do mundo estão ficando cada vez mais fora de alcance.
Um grande aumento de metano nas terras úmidas -- não contabilizado por planos nacionais de emissão e subestimado em modelos científicos -- pode aumentar a pressão para que governos façam cortes mais profundos em seus setores de combustíveis fósseis e agricultura, de acordo com pesquisadores.
Terras úmidas armazenam enormes reservas de carbono na forma de matéria vegetal que é lentamente decomposta pelos micróbios do solo. O aumento das temperaturas funciona como um acelerador desse processo, aumentando a velocidade das interações biológicas que produzem metano. Enquanto isso, fortes chuvas provocam inundações que expandem áreas úmidas.
Faz tempo que cientistas projetam que as emissões de metano de áreas úmidas aumentariam com o aquecimento do clima, mas, entre 2020 e 2022, amostras do ar exibiram as maiores concentrações de metano na atmosfera desde o início de medições confiáveis nos anos 1980.
Quatro estudos publicados nos últimos meses dizem que áreas úmidas tropicais são as mais prováveis culpadas pelo aumento, com regiões tropicais contribuindo com mais de 7 milhões de toneladas para o aumento de metano dos últimos anos.
“As concentrações de metano não estão apenas crescendo, mas crescendo mais rapidamente nos últimos cinco anos do que em qualquer outro momento no instrumento de registro”, disse o cientista ambiental da Universidade de Stanford, Rob Jackson, que preside um grupo que publica o Orçamento Global de Metano de cinco anos, divulgado pela última vez em setembro.
Instrumentos de satélite revelaram os trópicos como a fonte de um grande aumento. Além disso, os cientistas analisaram assinaturas químicas distintas no metano para determinar se ele era proveniente de combustíveis fósseis ou de fontes naturais -- neste caso, áreas úmidas.
O Congo, o Sudeste Asiático e a Amazônia e o sul do Brasil foram as regiões que mais contribuíram para o aumento nos trópicos, segundo os pesquisadores.
(Reportagem de Gloria Dickie em Baku; reportagem adicional de Virginia Furness em Baku)