Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Ministério da Agricultura autorizou, até o início da tarde desta sexta-feira, 48 produtores de Mato Grosso a antecipar o plantio de soja no Estado, permitindo, excepcionalmente, que a oleaginosa seja plantada antes do fim do vazio sanitário, em 15 de setembro.
Em nota à Reuters, o ministério informou também que o número de produtores autorizados a iniciar o plantio antecipadamente em Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, "deve aumentar ao longo do dia".
Um plantio mais precoce de soja poderia resultar em uma colheita também prematura, possivelmente antes do Natal. O pedido para a antecipação do cronograma foi feito por produtores de algodão, que em sua maioria plantam após a oleaginosa ser colhida e temem efeitos do El Niño, que poderia fazer "cortar" a chuva mais cedo no ano que vem.
Pelo vazio sanitário, Estados brasileiros concordam em manter os campos livres de soja por um período, com o objetivo de reduzir a disseminação do fungo da ferrugem asiática da soja, um dos principais desafios fitossanitários da cultura. No caso de Mato Grosso, o prazo se encerra em 15 de setembro.
Autorizações de plantio antecipado para fins comerciais antes do fim do vazio sanitário enfrentam resistência de parte do setor e do órgão de defesa agropecuária de Mato Grosso (Indea).
Em nota, o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) disse que as autorizações de plantio excepcionais para fins comerciais antes do fim do vazio sanitário "não possuem previsão legal de autorização pelo Indea". Mas o órgão destacou que as decisões do Ministério da Agricultura são soberanas.
A autorização do ministério foi dada em atendimento a uma demanda da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), que argumenta que neste ano de El Niño há maiores riscos climáticos para aqueles que fazem a segunda safra, pois as chuvas poderiam ficar mais fracas antes da hora, já entre o final de março e início de abril.
O objetivo da Ampa foi "mitigar o potencial risco climático para a futura safra 2023/24", uma vez que o milho e o algodão são semeados, em sua grande maioria, na segunda safra do Estado, após a colheita da soja.
Sem o plantio antecipado de soja, a segunda safra de milho ou algodão poderia se estender e ainda precisaria de chuvas na época em que se prevê que poderia já não haver precipitações necessárias para a boa finalização da temporada.
O diretor-executivo da Ampa, Décio Tocantins, disse à Reuters que os "produtores estão recebendo as autorizações do Ministério da Agricultura pelo sistema e depois procederão o plantio".
Segundo nota do ministério, o calendário de semeadura e o vazio sanitário têm como foco controlar a ferrugem asiática da soja no país, mas as "datas estipuladas têm um nível de flexibilidade para alterações e autorizações excepcionais, desde que os pedidos sejam encaminhados dos Estados para o Mapa com argumentação técnica".
"Esse procedimento é feito todos os anos de forma atender às necessidades regionais, visto as diferenças de produções e climas do Brasil", disse o ministério, ressaltando que "as decisões para definição do calendário são feitas com base em informações técnicas".
O início do plantio de soja também depende da ocorrência da chegada das chuvas de primavera ao Estado. Ou pode ser feito nas áreas irrigadas, disse o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer.
Segundo ele, algumas regiões já têm acumulado "interessante" de precipitações, o que poderia animar produtores a realizar o plantio dependendo das previsões climáticas.
(Por Roberto Samora)