BRASÍLIA (Reuters) - A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, reconheceu nesta terça-feira que houve diminuição de crédito rural a produtores no primeiro semestre, mas afirmou que isso foi parcialmente revertido em julho, quando bancos públicos, privados e cooperativas emprestaram mais.
Após reunião com instituições financeiras e entidades representativas dos produtores, Kátia pontuou que, de janeiro a junho, o volume conjuntamente disponibilizado caiu 9 por cento ante o mesmo período do ano passado, ou cerca de 5 bilhões de reais.
Produtores relataram anteriormente dificuldade na análise de crédito para financiamento da próxima safra de grãos, num contexto de juros mais altos, inclusive do Plano Safra, que foi apresentado neste ano pelo governo federal com uma parcela maior de empréstimos com taxas livres de mercado.
Em julho, entretanto, houve aumento de 32 por cento na liberação do crédito, disse a ministra, reforçando que o mês é o primeiro da nova safra 2015/2016.
"Isso traz certa tranquilidade porque estamos em ascendência: se houve redução de 5 bilhões de reais nos seis meses, já houve acréscimo de 3 bilhões de reais apenas neste mês (de julho)", afirmou ela a jornalistas.
A ministra ressaltou ainda que os negócios de insumos, como fertilizantes, não estão mais fracos este ano devido a fatores relacionados ao crédito. Disse nesta terça que a diminuição da compra por agricultores se dá antes pelo encarecimento do produto, majoritariamente importado, numa situação de dólar em alta.
"Não está diminuindo a compra de fertilizantes por causa da falta de crédito, e sim pelo preço", avaliou.
Ela admitiu ainda que incertezas econômicas globais também deixam alguns agentes do mercado mais cautelosos na liberação do crédito.
"Em nível internacional nós temos uma crise na China, estamos passando por ajustes sérios na nossa economia, então todo o mercado se sensibiliza. Então é normal que os bancos privados principalmente, temerosos dos riscos, fiquem mais exigentes, fiquem mais preocupados", completou, acrescentando que não vai ser isso que vai causar um "desfalque".
Segundo a ministra, uma nova reunião com os mesmos participantes será realizada no fim de setembro, quando serão apresentados dados mais detalhados sobre a liberação de recursos por cultura e por região.
BB REPORTA AUMENTO
O Banco do Brasil (SA:BBAS3), principal financiador do agronegócio brasileiro, informou nesta terça-feira que o volume de financiamentos contratatos para custeio agropecuário em julho aumentou 93 por cento na comparação como mesmo período do ano passado, para 6,4 bilhões de reais, em linha com a avaliação da ministra.
Questionado por jornalistas sobre o aperto nas garantias, o vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Osmar Dias, defendeu a prática.
"Neste momento que o país atravessa, é um gesto de responsabilidade de quem dirige um banco público. Nós não podemos evidentemente abrir mão de garantias porque os recursos que estamos emprestando são recursos boa parte deles públicos."
(Por Marcela Ayres; com reportagem adicional de Cesar Raizer)