Por Sergio Limachi
RIO BENI, Bolívia (Reuters) - Na Amazônia boliviana, as tensões estão aumentando devido ao aumento do garimpo de ouro que está impulsionando um crescimento nas importações de mercúrio usado para extrair o metal precioso e provocando conflitos entre garimpeiros e grupos indígenas.
O país tem registrado aumento na produção de ouro nos últimos cinco anos, com uma quantidade importante vinda de garimpeiros, segundo autoridades. A exploração aumentou com o preço global do ouro elevado nos últimos anos.
Autoridades e líderes indígenas estão agora preocupados com a forma como o garimpo está impactando o meio ambiente local e as vias navegáveis, e invadindo terras indígenas como aconteceu na Amazônia no Peru e no Brasil.
"Fomos recebidos com rojões e dinamite, eles jogaram pedras em nós", disse a senadora boliviana Cecilia Requena à Reuters durante viagem a um pequeno vilarejo ao longo do Rio Beni, no norte do país, um ponto onde ocorre a mineração ilegal de ouro.
Durante a viagem em maio, a Reuters viu sinais por toda parte ao longo do rio de máquinas de mineração e ouviu explosões de operações de garimpo. Requena mostrou à Reuters um vídeo de uma visita recente quando seu barco foi atacado por um homem jogando pedras.
"Você foi avisada, não foi?", gritou o homem.
O aumento da mineração selvagem fez com que a Bolívia, um país de cerca de 12 milhões de pessoas, se tornasse o maior importador mundial de mercúrio desde 2019, de acordo com o Observatório da Complexidade Econômica (OEC), que acompanha os fluxos comerciais globais.
O mercúrio é fundamental para a mineração de ouro e especialistas dizem que a elevação da importação é um reflexo de como o setor cresceu.
"A atividade de mineração em pequena escala e o uso de mercúrio no país aumentaram", disse à Reuters Marcos Orellana, relator especial da ONU sobre substâncias tóxicas e direitos humanos.
“O uso de mercúrio na mineração de ouro tem impactos severos na proteção ambiental, no desmatamento e principalmente nos direitos dos povos indígenas”, explicou ele, acrescentando que contamina as águas usadas para lavagem e pesca.
O Ministério da Mineração da Bolívia não respondeu a pedidos de comentários da Reuters.
"Nós realmente estamos totalmente poluídos aqui", disse Isidro Flores, líder da comunidade indígena Correo que vive próximo ao rio. "Você não pode nem tomar banho ou beber. A gente pescava no rio e agora não pode, está tudo poluído."
Requena, uma parlamentar de centro, tornou-se ativista que tenta estabelecer regras para coibir a mineração selvagem na Amazônia boliviana.
"Recebemos sinais de que estamos sendo ameaçados", afirmou Requena. "As pessoas dizem que têm o direito de fazer mineração e ninguém pode tirar isso delas. Dizem que vão lutar e usar a violência se necessário."
(Reportagem adicional de Marcelo Rochabrun e Monica Machicao)