Por Valerie Volcovici e Kate Abnett e Jake Spring
DUBAI (Reuters) - As negociações por um acordo climático se prolongaram na cúpula da COP28 em Dubai na quarta-feira, enquanto quase 200 países tentam superar suas diferenças sobre o papel dos combustíveis fósseis no futuro -- de longe a questão mais controversa do encontro.
O texto final ao qual a conferência de duas semanas irá chegar em relação a essa questão enviará uma mensagem poderosa aos investidores e aos mercados globais sobre a ambição dos governos, de todo o mundo, de encerrar ou manter o uso de petróleo, gás e carvão.
Muitas nações criticaram o rascunho do acordo divulgado na segunda-feira por não apelar a uma “eliminação progressiva” dos combustíveis fósseis, que segundo os cientistas são de longe a maior fonte de emissões de gases causadores do efeito estufa que impulsionam o aquecimento global.
Mais de 100 países, dos Estados Unidos e a União Europeia até pequenas nações insulares como Samoa, pressionaram pela escolha da linguagem adotada no texto da decisão, mas enfrentam resistência de membros do grupo de países produtores de petróleo da Opep e de seus aliados.
Na noite de terça-feira e nas primeiras horas de quarta-feira, as delegações dos países se reuniram entre si e com o governo anfitrião da COP28, os Emirados Árabes Unidos -- que é responsável por redigir um novo rascunho do acordo final -- para deixar claras suas exigências, em meio à agitação diplomática no meio da noite.
O enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, saiu de uma reunião com representantes de várias outras delegações na noite de terça-feira e disse acreditar que a linguagem dos combustíveis fósseis no texto do acordo da COP28 estava ficando mais forte.
“Acho que há progresso e estamos caminhando na direção certa”, disse ele aos repórteres. "E você sabe, vamos continuar trabalhando durante a noite."
Toeolesulusulu Cedric Schuster, ministro do Meio Ambiente de Samoa, disse que “há melhorias em relação à linguagem de ontem em algumas áreas”, mas se recusou a fornecer detalhes.
As pequenas nações insulares, que já sentem o peso da elevação do nível do mar provocada pelo clima, haviam descrito o projeto de acordo de segunda-feira como uma sentença de morte.
A presidência da COP esperava encerrar a cúpula de duas semanas até terça-feira de manhã, mas os conflitos sobre o texto do acordo forçaram as negociações a adentrar horas extraordinárias -- um padrão de rotina para as conferências anuais da COP.
O diretor geral da COP28, Majid Al Suwaidi, disse que o objetivo do texto de segunda-feira era atrair negociadores para revelar suas demandas e levar a discussão adiante.
“Ao divulgar nosso primeiro rascunho do texto, conseguimos que as partes nos procurassem rapidamente com essas linhas vermelhas”, disse.
Al Suwaidi afirmou que a presidência da COP28 almejava um resultado “histórico” que incluísse a menção aos combustíveis fósseis -- mas que cabia aos países concordar.
Fontes familiarizadas com as discussões disseram que o presidente da COP28, o sultão Ahmed Al Jaber, enfrentou pressão da Arábia Saudita, líder de fato do grupo de produtores de petróleo da Opep, ao qual os Emirados Árabes Unidos pertencem, para abandonar qualquer menção aos combustíveis fósseis.
O governo da Arábia Saudita não respondeu aos pedidos de comentários na terça-feira.
(Reportagem de Valerie Volcovici, Kate Abnett, Jake Spring, Gloria Dickie, Elizabeth Piper e David Stanway)