Por Bruno Kelly e Jake Spring
MANAUS (Reuters) - O porto de Manaus atingiu seu nível mais baixo desde 1902, à medida que uma seca histórica drena os rios e dificulta o transporte, as exportações e o abastecimento da região.
As chuvas abaixo da média mesmo durante a estação chuvosa têm atormentado a Amazônia e grande parte da América do Sul como um todo desde o ano passado, alimentando também os piores incêndios florestais em mais de uma década no Brasil e na Bolívia. Pesquisadores afirmam que a mudança climática é a principal culpada.
Os cientistas preveem que a região amazônica pode não recuperar totalmente os níveis de umidade até 2026.
No ano passado, a seca se transformou em uma crise humanitária, uma vez que as pessoas que dependem dos rios ficaram sem comida, água e remédios.
Este ano, as autoridades já estão em alerta. No Estado do Amazonas, duramente atingido pela seca, pelo menos 62 municípios estão em estado de emergência, com mais de meio milhão de pessoas afetadas, de acordo com a Defesa Civil estadual.
"Essa já é a seca mais severa em mais de 120 anos de medição do Porto de Manaus", disse Valmir Mendonça, chefe de operações do porto na maior cidade da floresta amazônica. Ele afirmou que o nível do rio provavelmente continuará caindo por mais uma ou duas semanas.
Como a região não consegue se recuperar totalmente devido às chuvas sazonais mais fracas do que o normal, muitos dos impactos da seca do ano passado parecem destinados a se repetir ou a atingir novos extremos agora.
O Porto de Manaus mediu o nível do rio Negro em 12,66 metros nesta sexta-feira, de acordo com seu site, ultrapassando o recorde histórico de baixa registrado no ano passado, e o nível segue caindo rapidamente.
O rio Negro é um dos principais afluentes do rio Amazonas, o maior rio do mundo em volume. O porto fica próximo ao "encontro das águas", onde a água escura do rio Negro se encontra com a água de cor arenosa do rio Solimões, que também atingiu um recorde de baixa nesta semana.
Os embarques de grãos foram interrompidos no rio Madeira, outro afluente do Amazonas, devido aos baixos níveis de água, informou uma associação portuária no mês passado.
Pesquisadores têm encontrando novamente carcaças de botos amazônicos, o que eles atribuem ao enfraquecimento das águas, que está levando as espécies ameaçadas a um contato mais próximo com os seres humanos.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) já classificou a seca atual como a pior no Brasil desde, pelo menos, a década de 1950.
A seca também esgotou as usinas hidrelétricas, a principal fonte de eletricidade do Brasil. Autoridades do setor de energia aprovaram a volta do horário de verão para economizar eletricidade, embora a medida ainda precise de aprovação presidencial.
O clima extremo e a seca estão afetando grande parte da América do Sul, com o rio Paraguai também atingindo o nível mais baixo de todos os tempos. Esse rio nasce no Brasil e flui pelo Paraguai e pela Argentina até o Atlântico.
O mesmo calor e secura extremos estão ajudando a provocar o aumento de incêndios na Amazônia e no Pantanal.
A Bolívia também está a caminho de quebrar o recorde de maior número de incêndios já registrados, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).