SÃO PAULO (Reuters) - O Instituto Aço Brasil (IABr), que representa as siderúrgicas instaladas no país, cortou nesta segunda-feira as perspectivas de produção e vendas de aço no mercado interno em 2014, diante da fraqueza do setor industrial e das fracas perspectivas para o próximo ano.
A entidade, que em abril esperava alta de 5,2 por cento na produção de aço bruto do Brasil este ano, cortou a projeção para queda de 2,5 por cento, a 33,3 milhões de toneladas.
O IABr já vinha admitindo a possibilidade de cortar a estimativa e decidiu usá-la após a produção do país de janeiro a julho ter caído 1 por cento ante mesmo período do ano passado, para 19,678 milhões de toneladas.
"O crescimento do Brasil tem sido muito aquém das expectativas e achamos que vai ser menor do que 1 por cento em 2014", afirmou o presidente do IABr e presidente da ArcelorMittal no Brasil, Benjamin Baptista, a jornalistas.
"Houve queda brutal na produção industrial (...) Porém, ainda acho que vamos ter nos últimos dois meses do ano uma tendência de melhoria, com maior atividade industrial e reajuste dos baixos níveis de estoque". Sobre 2015, ele afirmou que vai ser um ano "complicado para qualquer governo", com os primeiros seis meses desafiadores, mas evitou fazer projeções específicas para o setor siderúrgico.
O instituto também reduziu a projeção de vendas de aço no Brasil para este ano, de alta de 4,1 por cento para queda de 4,9 por cento, a 21,7 milhões de toneladas. De janeiro a julho, as vendas caíram 6 por cento, a cerca de 12,5 milhões de toneladas.
Considerando apenas o desempenho de julho, o setor siderúrgico teve produção 0,5 por cento maior que no mesmo mês de 2013, a 2,929 milhões de toneladas. Já as vendas caíram 10,2 por cento, a 1,739 milhão de toneladas, informou a entidade.
O IABr também reduziu a projeção de consumo aparente, indicador que mede volume de vendas das usinas, somando importações e excluindo exportações. O consumo previsto para 2014 agora é de 27,214 milhões de toneladas, queda de 4,1 por cento sobre 2013. A estimativa anterior era alta de 3 por cento. "A queda no consumo aparente nos espanta", disse Baptista.
Os distribuidores de aço plano, que ficam com cerca de 30 por cento da produção das usinas siderúrgicas do país, já tinham cortado no fim de julho as projeções de desempenho em 2014, com estimativa de alta de vendas caindo de 4 para 1 por cento, com viés negativo, segundo a entidade do setor, Inda.
Os únicos dados que tiveram previsões melhoradas foram os de comércio exterior. As exportações devem crescer 3,9 por cento, para 8,4 milhões de toneladas, ante perspectiva anterior de alta de 2,3 por cento.
Mas essa melhora deve-se à reativação de alto-forno da ArcelorMittal no Espírito Santo, após o grupo comprar uma laminadora nos Estados Unidos que usará placas produzidas no Brasil e em outros países onde a empresa está.
Já as importações devem subir 1,8 por cento em 2014, ante previsão anterior de queda de 4,9 por cento, para 3,77 milhões de toneladas, informou o IABr, que calcula em 73 por cento a sobra de capacidade produtiva do setor no país em relação à demanda interna em 2014.
MANUTENÇÃO DE PREÇOS
Mesmo com a forte queda nas vendas, refletindo o ambiente de fraqueza econômica e importações elevadas, o presidente do grupo ArcelorMittal Brasil afirmou não ver motivos para reduzir preços no mercado interno.
Baptista afirmou a jornalistas que o setor siderúrgico trabalha com perspectiva de desvalorização do real até o fim do ano, o que deve ajudar a conter a entrada de material produzido no exterior. "Não tem razão nenhuma para mexer agora", afirmou.
No fim de julho, a Usiminas afirmou que o prêmio, diferença entre o preço do aço vendido no Brasil e o importado, estava em cerca de 10 a 15 por cento, o que estimularia importações por estar acima da faixa habitual de 5 a 10 por cento. Mas a empresa disse que o cenário era de estabilidade de preços, algo repetido pela rival CSN alguns dias depois.
(Por Alberto Alerigi Jr.)