Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Empresários do setor de transportes e caminhoneiros protestaram nesta quarta-feira contra os preços dos combustíveis e margens apertadas no frete, interrompendo o fluxo de caminhões em dois pontos da BR-163, principal rota de escoamento de grãos de Mato Grosso, num momento da colheita da nova safra de soja se intensifica.
O tráfego de cargas foi bloqueado por algumas horas pela manhã em Lucas do Rio Verde e Nova Mutum, no médio-norte mato-grossense, e novamente interrompido à tarde informou a concessionária Rota do Oeste, divisão da Odebrecht Transport.
Os manifestantes prometem novas paralisações na quinta-feira, das 8h às 11h e das 13h às 19h, proibindo a passagem de caminhões, mas sem afetar o fluxo de carros de passeio, ônibus e veículos de emergência.
"Se não houver conversas (com o governo do Estado) a partir de sexta, não terá mais janelas de liberação", disse à Reuters um dos líderes do movimento, Gilson Pelicioni, dono de uma transportadora e vereador em Lucas do Rio Verde.
Segundo ele, empresários dos municípios de Sorriso e Sinop, no norte de Mato Grosso, também devem realizar bloqueios semelhantes na BR-163.
A rodovia é a principal rota de escoamento de grãos de Mato Grosso. Por ela devem passar mais de 19 milhões de toneladas de soja no primeiro semestre, ou 70 por cento da safra do Estado, pelos cálculos da concessionária.
Os produtores de Mato Grosso colheram até semana passada um quinto das lavouras de soja plantadas na safra 2014/15, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). O escoamento da safra pelas rodovias já começou, mas deve ter seu auge a partir de março.
"Nossa pretensão é fazer com que diminua o carregamento de soja para a exportação", disse Pelicioni.
A Aprosoja MT, associação que reúne produtores de grãos de Mato Grosso, disse por meio da assessoria de imprensa que ainda não tem registro de problemas no escoamento da safra e que monitora os protestos para avaliar eventual impacto.
PREÇOS E MARGENS
Os manifestantes reclamam do preço do diesel, que sofreu reajuste em 1º de fevereiro após um aumento de impostos pelo governo federal, apertando as margens no frete.
Um dos pedidos é que o governo estadual reduza a alíquota de ICMS cobrado no diesel e force empresas que contratam frete a seguir uma tabela de preços mínimos, que cubra os custos.
A Secretaria da Fazenda de Mato Grosso afirmou em nota que realiza um estudo técnico sobre o setor de combustível, que "não pode ser feito da noite para o dia, pois causaria um grande impacto nas contas do Estado", mas que há espaço para discussão.
"Tivemos reajustes de combustíveis em pleno pico da safra. E esse reajuste não foi repassado para o preço do frete", disse o diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Cargas do Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes.
Segundo Mendes, o preço de frete para este momento de pico de escoamento da safra está 25 por cento abaixo do praticado na mesma época do ano passado.
Na avaliação da ATC, muitos empresários de outros setores e até profissionais liberais entraram no ramo de transporte de cargas ao longo de 2014, estimulados pelas baixas taxas de juros em linhas de financiamento do governo federal para caminhões. O aumento da oferta de caminhões é apontado como uma das causas estruturais dos problemas enfrentados pelas transportadoras.