Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O plantio de trigo no Paraná, o maior produtor brasileiro do cereal, deverá cair 6 por cento em 2019 na comparação com o ano passado, para 1,035 milhão de hectares, estimou nesta quarta-feira o Departamento de Economia Rural (Deral), com produtores pouco entusiasmados com a cultura e após o anúncio de uma cota livre de tarifa para o grão importado de fora do Mercosul.
Segundo o especialista em trigo do Deral, Carlos Hugo Godinho, o preço do trigo está começando a cair e o custo de produção manteve-se alto. Além disso, recentemente o Brasil anunciou uma cota sem a tarifa de importação de 10 por cento para 750 mil toneladas do produto colhido fora do Mercosul.
Caso efetivada a cota, isso tenderia a aumentar a oferta no país, que já importa grandes quantidades da Argentina, que por sua vez colheu uma safra recorde na última temporada.
"Não digo que (a cota) tenha tido uma influência direta (na intenção de plantio), mas o produtor via uma perspectiva de melhora de preço. Esse seria mais um fator para continuar baixo. São vários fatores...", disse Godinho à Reuters.
Apesar da queda na área, o Paraná ainda teria a chance de produzir mais neste ano, uma vez que a temporada passada foi atingida por adversidades climáticas. O Deral projeta uma produção de 3,3 milhões de toneladas, aumento de 18 por cento ante 2018, com ganhos de produtividade.
Assim, o Estado colheria cerca de metade da produção de trigo do Brasil.
Segundo o especialista, o preço de trigo no Paraná na comparação com o março do ano passado subiu mais de 30 por cento, enquanto o custo aumentou 18 por cento.
"Então deveria ter pelo menos manutenção de área, então não é só isso, é a perspectiva de preço que está pesando na decisão", disse Godinho, lembrando também que, em geral, produtores no Estado estão desestimulados em relação ao trigo, após dois anos de quebras por clima.
"Pesa o histórico recente de duas quebras de safras, o preço teria que estar muito bom para ele plantar mais."
Segundo o especialista, o plantio de trigo deve começar no Estado ao final de abril, o que indica que o número atual pode mudar.
Para o agrônomo do Deral, o único fator positivo para o trigo foi o reajuste recente para cima no preço mínimo do produto, parâmetro usado pelo governo para operações de apoio ao agricultor.
MILHO E SOJA
A segunda safra de milho 2018/19 do Paraná, em fase final de plantio, deve alcançar 13 milhões de toneladas, projetou também nesta quarta-feira o Deral, em um aumento ante os 12,76 milhões vistos anteriormente.
Essa estimativa indica um crescimento de 42 por cento ante a temporada passada, quando o clima afetou as produtividades.
O plantio de segunda safra está quase finalizado no Estado.
No caso da soja, a expectativa é de que o Paraná colha 16,13 milhões de toneladas, versus 16,35 milhões da previsão do mês anterior.
Esse volume representaria uma produção 16 por cento menor que a registrada no ciclo anterior, uma vez que oleaginosa paranaense foi fortemente afetada pelo tempo seco e quente entre dezembro e janeiro.
Segundo o Deral, 80 por cento da safra de soja já foi colhida no Estado.
(Com reportagem adicional de José Roberto Gomes)