Por Daniela Desantis e Lisandra Paraguassu
ASSUNÇÃO/BRASÍLIA (Reuters) - Parlamentares paraguaios recuaram nesta quinta-feira da ameaça de pedir o impeachment do presidente Mario Abdo depois que Brasil e Paraguai cancelaram um acordo de energia que causou polêmica e criou o risco de desestabilizar o governo em Assunção.
Abdo pediu desculpas pela maneira como lidou com a polêmica sobre a assinatura de um acordo energético com o Brasil envolvendo a hidrelétrica de Itaipu, que parlamentares da oposição disseram afrontar a soberania do Paraguai.
"Quem tiver que ser responsabilizado por má conduta será responsabilizado", disse Abdo em uma mensagem à nação, acrescentando que agradecia os parlamentares por decidirem proceder de uma maneira "que não rompe com o processo democrático".
Na quarta-feira, alguns parlamentares disseram que pressionariam pelo impeachment de Abdo e do seu vice-presidente, Hugo Velázquez, após um escândalo que levou à renúncia do ministro das Relações Exteriores e de três outras autoridades.
A revolta foi desencadeada por um acordo de energia, que veio a público na semana passada, relacionado à gigantesca usina hidrelétrica de Itaipu, que se estende entre os dois países.
Autoridades e parlamentares paraguaios disseram que o pacto seria prejudicial para o Paraguai e que custaria cerca de 200 milhões de dólares ao Estado. O Paraguai é altamente dependente da receita de Itaipu.
"Peço desculpas se estava errado", disse Abdo diante de cerca de 5 mil apoiadores que se reuniram diante do palácio de governo no centro da capital Assunção.
O escândalo foi a primeira grande crise a abalar Abdo, que é próximo do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil disse nesta quinta-feira que tentativas de remover o líder paraguaio criam o risco de uma "ruptura da ordem democrática".
Bolsonaro disse apoiar Abdo, que emergiu como um de seus primeiros aliados na região. "O problema do Paraguai é que o impeachment você faz em 72 horas", disse Bolsonaro a repórteres na manhã desta quinta-feira. "A gente não quer prejudicar o Paraguai".
Paraguai e Brasil se preparam para negociar o futuro de Itaipu, cujo tratado de fundação vence em 2023.