Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Com parte do plantio realizado fora do período ideal, o Brasil já vê perdas na segunda safra de milho que devem reduzir a produção total do país para 107,3 milhões de toneladas em 2020/21, conforme pesquisa da Reuters publicada nesta terça-feira.
Apesar de a projeção ainda configurar um recorde, o mercado está apreensivo quanto à oferta e preços internos, com algumas consultorias estimando volumes menores.
A AgRural, por exemplo revisou para baixo sua estimativa em 3 milhões de toneladas, para 103,4 milhões de toneladas, número que é o mais baixo obtido pela Reuters em uma pesquisa com 11 especialistas.
O levantamento também apontou uma queda de 900 mil toneladas na comparação com pesquisa feito pela Reuters em fevereiro, com as mesmas casas de análises.
"Nossos principais cortes foram feitos no Paraná e Mato Grosso do Sul, que praticamente não têm registrado chuvas desde março, e embora precisem das chuvas até maio, algumas áreas nesses Estados já tiveram perdas", disse à Reuters a analista da AgRural Daniele Siqueira.
Ela afirmou que todo o centro-sul, onde a produção é concentrada, está em estado de atenção devido à semeadura tardia. Segundo Daniele, até o momento, somente Mato Grosso contou com bons índices de precipitação.
A partir de agora, a safra de inverno começa a entrar em estágio de floração, etapa de desenvolvimento onde a umidade do solo é crucial para determinar o nível de produtividade das lavouras.
As chuvas --ou falta delas-- nas próximas semanas serão, portanto, cruciais para determinar a intensidade das perdas de produtividade na safra 2020/21, ressaltou a analista da consultoria Céleres Daniely Santos.
"É certo que não teremos um ano de recordes de produtividade. O nível de quebra vai depender, agora, do quanto as chuvas até meados de maio vão contribuir para o desenvolvimento das lavouras", acrescentou.
Apesar da quebra de produtividade, a safra ainda deve crescer por conta de um aumento anual de pouco mais de 1 milhão de hectares na área plantada, que deverá atingir 19,65 milhões de hectares, conforme sondagem da Reuters, ante 19,44 milhões vistos no último levantamento.
Contudo, com o atraso na colheita da soja, estima-se que cerca de 40% do milho segunda safra tenha sido plantado fora do período de recomendação técnica, deixando a temporada mais suscetível a riscos climáticos, disse o coordenador de grãos da Datagro, Flávio Roberto de França Jr.
Vale lembrar que quase 80% da produção nacional do cereal é proveniente da segunda safra.
A consultoria AgRural também divulgou nesta terça-feira sua primeira avaliação para a "safrinha" considerando o impacto do clima para a produtividade do milho, ao invés de linhas de tendência, e cortou a projeção de 80,1 milhões de toneladas para 77,5 milhões.
APERTO
O coordenador da Datagro alertou que, se as chuvas previstas para as próximas semanas se confirmarem, mesmo que haja perda de potencial produtivo, os produtores conseguirão colher.
Mas se a seca persistir, ou as precipitações forem insignificantes, as perdas nas lavouras tendem a aumentar a cada dia.
"O quadro é muito preocupante. Está muito tenso e se refletindo no preço, que explodiu nas últimas semanas, acima de 100 reais por saca... A gente vem de uma safra de verão menor, demanda muito forte no mercado interno, preços internacionais muito altos, taxa de câmbio alta... Se não colher bem, o mercado de milho pode entrar em colapso", disse França Jr.
Atento a estes riscos, o Ministério da Agricultura anunciou na véspera uma suspensão até o final do ano das tarifas de importação de milho, soja, óleo e farelo da oleaginosa provenientes de países de fora do Mercosul.