Por Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de petróleo refinado no Brasil caiu no primeiro bimestre do ano, apesar da entrada em operação de parte da Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco, devido a paradas para manutenção em três das maiores refinarias da Petrobras, disse a petroleira à Reuters nesta sexta-feira.
A redução do refino ocorreu em um momento em que a demanda por alguns derivados é menor, ao mesmo tempo em que o mercado ficou favorável para importações de combustíveis, por conta da queda dos preços do petróleo no exterior.
Enquanto em janeiro pararam para manutenção unidades da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, e Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, e em fevereiro foi a vez da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, disse a Petrobras. Na Rlam, ainda houve um explosão durante o período de manutenção.
"A companhia esclarece que a carga processada em janeiro e fevereiro de 2015 foi menor que os valores típicos devido às paradas de manutenção", detalhou a Petrobras.
A estatal não informou o impacto exato das paradas na produção de derivados, após questionamento da Reuters sobre o total processado em relação ao mesmo período de 2014.
Os dados oficiais mais recentes de refino, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), indicam uma queda de 6,4 por cento em janeiro ante o mesmo mês de 2014, para 1,9 milhão de barris de petróleo/dia.
Na mesma comparação, a produção de gasolina pura no país caiu 6 por cento, para 443,371 mil barris/dia, e a de óleo diesel caiu 1,5 por cento, para 783,222 mil barris/dia.
Os dados de fevereiro ainda não foram publicados pela autarquia.
RETOMADA
Com a segunda maior capacidade de processamento do país, de 323 mil barris de petróleo por dia, a Rlam sofreu ainda uma explosão durante a parada programada para manutenção, em janeiro, que deixou três funcionários feridos.
O processamento de petróleo na Rlam caiu 51,3 por cento em janeiro, para 147,516 mil barris por dia de óleo, segundo a ANP.
Já a Reduc precisou realizar reparos em uma unidade de craqueamento catalítico. O sindicato que representa funcionários da unidade sustentou que a paralisação ocorreu devido a um desligamento de emergência, enquanto a Petrobras afirmou que a parada foi planejada.
De acordo com uma fonte da Petrobras com conhecimento das operações, a Reduc está operando com três quartos da capacidade desde o Carnaval, e os reparos deverão ser finalizados neste fim de semana. A expectativa, segundo a fonte, que pediu para não ser identificada, é de que as atividades voltem ao normal na próxima semana.
A queda do processamento da Reduc em janeiro foi de 20,4 por cento, para 222,864 mil barris/dia, segundo dados da ANP. Já o refino da Replan, a maior do país, caiu 35 por cento, para 396,089 mil barris/dia.
Muitas paradas de refinarias costumam acontecer no início do ano, segundo a fonte, que ressaltou que a refinaria da Bahia já está operacional.
As medidas, acrescentou, são preventivas.
"O mercado fica mais baixo por questões agrícolas, industriais e por ser um mês de menor demanda por conta das férias", afirmou. "Janeiro e fevereiro, a gasolina até tem aumento de demanda, mas o diesel, que é mais ligado a atividades econômicas, só mais para o segundo semestre e fim de ano."
A Refinaria do Nordeste, que começou a produzir em dezembro, processou cerca de 49 mil barris de petróleo/dia em janeiro, segundo a ANP, ajudando a compensar parte do recuo no refino nas outras unidades.
IMPORTAÇÕES DE COMBUSTÍVEIS
Ao longo do ano passado, a Petrobras registrou recordes de refino no país, reforçando as atividades para limitar importações de derivados, uma vez que passou a maior parte de 2014 com defasagem de preços em relação aos valores externos, por conta da política governamental.
A carga refinada em 2014 foi de 2,1 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), alta de 1,7 por cento ante 2013.
A redução no refino da Petrobras nos dois primeiros meses do ano acontece em meio a um atípico aumento de importações de combustíveis por empresas privadas, devido à queda da cotação do petróleo, que deixou recentemente os preços da gasolina e diesel, controlados pelo governo, mais altos no país do que no exterior.
Questionada se também aumentou importações de derivados, a assessoria de imprensa da Petrobras não respondeu.
Segundo a fonte ouvida pela Reuters, os preços internos e externos ainda estão "bastante bons" para a estatal.
"As companhias (privadas) estão importando também. O mercado é competitivo e temos apetite para isso", afirmou.
De 2010 até outubro de 2014, as importações de diesel e gasolina eram praticamente realizadas pela estatal, que comprava os combustíveis por preços mais altos no exterior e os vendia com valores mais baixos no Brasil, com prejuízo, em função da política do governo de preservar a inflação.
Representantes do setor confirmaram recentes importações por outras empresas.
"No fim de janeiro e início de fevereiro, a gente tem tido operações de importações (por empresas privadas), não são volumes grandes, são entre 2 e 3 por cento do mercado", disse o diretor de Abastecimento do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Luciano Libório, à Reuters.
Segundo a fonte ouvida pela Reuters, a Petrobras não está reduzindo o refino devido ao cenário de preços favoráveis para a importações de combustíveis.
"Como sou exportador de petróleo, eu tenho que usar minhas unidades... Nós temos que usar as refinarias no limite da eficiência, na casa de 96 por cento", afirmou a fonte. "As indicações econômicas indicam para a gente usar o melhor das refinarias."
Já o analista da Tendências Consultoria Walter De Vitto explicou que a Petrobras não reduz propositalmente a atividade de refino, também porque não tem como controlar variáveis como dólar e cotação do barril de petróleo.
Prova disso é a recente desvalorização do real frente ao dólar, que reduziu os ganhos com as importações de combustíveis. 2015-03-06T201241Z_1006880001_LYNXMPEB250XM_RTROPTP_1_NEGOCIOS-ENERGIA-PETROBRAS-REFINO.JPG