Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Comercializadoras de energia elétrica estão revendo para baixo suas projeções para a demanda por eletricidade neste ano e até em 2020, em meio a um desempenho da economia abaixo do previsto anteriormente e uma atividade fraca na indústria, disseram executivos do setor à Reuters.
A economia brasileira recuou 0,2% entre janeiro e março quando na comparação com os três meses anteriores, enquanto houve ligeiro avanço de 0,5% ante o mesmo trimestre do ano anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final de maio.[nL2N2360KL][nL2N2360FZ]
As projeções de órgãos do governo como a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para a demanda, divulgadas no final de abril, apontam para alta de 3,4% na carga na comparação anual, mas levam em consideração uma expansão do PIB de 2,2%.[nAQN00MA9B]
As expectativas de economistas, no entanto, já apontam para crescimento de apenas 1,13% da economia neste ano, contra 1,49% há um mês, segundo o boletim Focus, do Banco Central.[nL2N23A09G]
"A gente tem visto que o que foi projetado pela EPE não tem se realizado, então imaginamos algum tipo de correção da carga. O PIB não está se recuperando e a tendência é não se recuperar tanto quando se previa", disse à Reuters o diretor da Ecom Energia, Paulo Toledo.
A empresa projeta que a previsão da EPE, de alta de 3,4% da carga de energia em 2019, deverá ser cortada até setembro em entre 0,8 e 1 ponto percentual.
"A gente imagina que para 2020 também deve ter alguma correção... já estaremos no segundo semestre, e é difícil você mudar tanto a rota. A carga retoma com uma curva um pouco mais lenta", acrescentou Toledo, sem cravar números.
A EPE prevê alta de 3,8% no consumo de energia em 2020.
Para o diretor da True Comercializadora, Gustavo Arfux, as contínuas revisões para baixo nas projeções de analistas para o PIB reforçam a impressão de que a revisão pode ter algum impacto também em 2020.
"Essa trajetória de queda ainda não está no vale, então acredito que isso logo começa a afetar o ano que vem", afirmou.
Ele disse que a carga de energia em maio, primeiro mês após a revisão das estimativas oficiais pela EPE, ficou cerca de 800 megawatts médios abaixo do previsto pela estatal, com um clima mais frio somando-se à retração da indústria para impactar negativamente o consumo.
A projeção da True é de que a demanda fechará o ano cerca de 500 megawatts médios abaixo da estimativa oficial, o que representaria corte de 0,7%.
"Temos visto uma retração da indústria bastante forte. No curto prazo a gente vê grandes produtores da cadeia metalúrgica, do aço com um todo, consistentemente com sobra de contrato (de compra de energia), volumes significativos de sobra, e crescentes, então é a famosa pisada no freio", acrescentou Arfux.
A comercializadora Evo Energia trabalha com três cenários, do mais otimista ao pessimista, nos quais projeta cortes de entre 200 megawatts médios e 600 megawatts médios nos números da EPE quando a estatal for revisitar suas projeções, no final de agosto.
"A expectativa é de revisão para baixo... e eu diria que a possibilidade de a gente ter uma revisão de 2020 para baixo é bastante grande", disse o chefe de operações da empresa, Celso Concato.
Isso significaria um corte de 0,29% a 0,87% frente aos números da EPE, ou uma expansão de entre 2,5% e 3,1% na comparação com a carga registrada em 2018.
"Desde as eleições havia uma expectativa bastante otimista com o crescimento da economia com esse novo governo, mas houve alguns percalços. Não foi aprovado o que se pretendia dentro do 'timing' correto, como a reforma da Previdência, que é hoje vista como grande marco para que a economia deslanche, e isso frustou a expectativa", explicou Concato.
PREÇOS
A concretização da revisão da projeção oficial de carga em setembro deverá ter impacto negativo sobre os preços da energia em contratos de curto prazo no mercado livre de eletricidade, no qual grandes clientes como a indústria negociam o suprimento diretamente com fornecedores, disseram as comercializadoras.
Esse impacto sobre os preços pode variar de cerca de 5 a até 20 reais por megawatt-hora a depender da magnitude do corte nas projeções, de acordo com a Ecom.
Já os preços para contratos de longo prazo no mercado livre têm caído gradualmente nas últimas semanas. O contrato de energia convencional tocou na semana passada o menor preço desde meados de março, a 179,52 reais por megawatt-hora, contra máxima em 2019 de 183 reais em 10 de abril, segundo dados da consultoria Dcide compilados pela Reuters.
(Por Luciano Costa)