Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O plantio da safra 2015/16 de soja em Mato Grosso, que até semana passada estava atrasado ante 2014/15, avançou com bom ritmo na última semana para 14,3 por cento da área prevista, ante 9,3 por cento no mesmo estágio de 2014, informou nesta sexta-feira o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Até o final da semana passada, produtores tinham semeado apenas 6,1 por cento da área estimada em um recorde de 9,2 milhões de hectares no Estado, o maior produtor brasileiro da oleaginosa.
O avanço semanal ocorreu apesar do clima irregular, com alguns agricultores realizando o plantio nas áreas que receberam bons volumes de chuvas isoladas. Além disso, alguns produtores arriscam visando garantir uma janela de plantio adequada ao algodão, após a colheita da soja.
Todo o Centro-Oeste do Brasil tem sofrido com irregularidade nas chuvas devido ao fenômeno climático El Niño. Em geral, os agricultores costumam aguardar bons volumes de precipitações para garantir umidade no solo e um bom desenvolvimento das novas plantas.
A região oeste de Mato Grosso é a mais avançada, segundo o Imea, com 21,5 por cento da área semeada. Mas isso não significa que as chuvas na região estejam normalizadas.
"Hoje faz dez dias que não tem uma gota de chuva na minha lavoura", relatou o presidente do Sindicato Rural de Sapezal, principal município produtor do oeste de Mato Grosso, José Guarino. "Eu particularmente não coloquei nenhum grão no chão... Não quero arriscar."
Segundo Guarino, o avanço registrado ocorreu em áreas isoladas onde choveu bastante e também nas fazendas de grandes produtores que almejam plantar algodão após a soja e precisam acelerar o cronograma de cultivo.
"Eles estão arriscando e muito. Ano passado plantaram (antecipadamente em meio à seca) e colheram menos de 30 sacos (por hectare)", disse Guarino, comparando o resultado com uma média estadual de 52 sacos por hectare.
Segundo a Somar Meteorologia, a região central de Mato Grosso, que concentra a maior parte das lavouras, acumula 52 milímetros de chuvas até o momento no mês de outubro, faltando ainda muito para alcançar a média histórica para o mês inteiro, que é de 155 milímetros.
O serviço Agriculture Weather Dashboard, da Thomson Reuters, aponta um período seco mais prolongado na média do Estado entre esta sexta-feira até o dia 24 de outubro.
Produtores dizem estar preocupados não só com a falta de chuvas no curto prazo, mas também com a irregularidade das precipitações que virão.
"Estamos sem chuva desde o dia 6 (de outubro)", relatou a produtora Cleia Tomé, que já plantou cerca de metade da soja em sua área de 2.600 hectares, em Campos de Júlio, também no oeste de Mato Grosso. "O calor está extremo. Se não chover, a partir do dia 22 tem áreas de replante."
Mato Grosso deverá colher mais uma safra recorde de soja em 2015/16, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estimou produção de até 29,2 milhões de toneladas, cerca de 30 por cento da safra nacional.