Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O preço spot da energia elétrica, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), pode tocar o teto permitido pela legislação ainda em fevereiro caso não haja melhora no volume de chuvas previsto para a região dos reservatórios das hidrelétricas, principal fonte de geração do Brasil, disseram analistas à Reuters.
Se confirmada a projeção, seria a primeira vez desde 2015 que o preço spot chega ao nível máximo ainda no chamado "período úmido", que vai de novembro a abril e geralmente registra precipitações mais intensas na região das usinas hídricas.
A alta do preço spot, bastante influenciado pela hidrologia, aumenta chances de bandeiras tarifárias, que elevam custos na conta de luz para sinalizar a menor oferta de energia. O movimento ainda leva ao acionamento de mais térmicas, que também geram custos para os consumidores.
"Se não chover até meados de fevereiro a gente acha que vai dar teto ainda neste mês, não tem como fugir disso", disse a gerente da consultoria Thymos Energia, Daniela Souza.
O preço spot no Sudeste, região que concentra o consumo de energia e os maiores reservatórios, chegou a tocar 59,43 reais por megawatt-hora no começo de dezembro, quando as chuvas estavam em maior nível e as expectativas para 2019 eram positivas.
Desde meados de dezembro, no entanto, o cenário hídrico virou e os preços saltaram rapidamente, tocando 457 reais nesta semana, ante teto regulatório de 513,89 reais por MWh.
"Não começamos bem o período úmido, e agora não está chovendo. Aí (se o preço chegar ao máximo) ele só sai do teto quando tiver uma previsão de que vai chover (mais)", acrescentou ela.
O responsável pela área de preços da comercializadora Quantum Energias, Henrique Kido, também avalia que os preços spot estão muito perto de tocar o teto regulatório.
"Pela nossa projeção, é bem realista dar preço teto. Preço spot da próxima semana estamos vendo no máximo no Sudeste e no Sul. Se não for teto, vai ser (na casa dos) 500 reais", afirmou.
A expectativa da Quantum é de um PLD médio para fevereiro de 472 reais por MWh no Sudeste, segundo Kido. Já no Norte e no Nordeste os valores devem seguir ainda abaixo disso, com médias para o mês previstas em 174 reais e 44 reais por MWh.
Segundo dados compilados pela Quantum, as chuvas na região das hidrelétricas do sistema elétrico brasileiro têm apresentado neste ano o quinto pior desempenho desde 1931, quando começaram os registros.
No Sudeste, as precipitaçõs para fevereiro estão estimadas em apenas 64 por cento da média histórica. No Nordeste, segunda região em reservatórios, a estimativa é de apenas 17 por cento da média, conforme boletim da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Os preços spot mais elevados também já impactam as cotações no mercado livre de energia, no qual grandes consumidores negociam diretamente com fornecedores, com efeitos até nos contratos de prazo mais longo, geralmente menos sujeitos à influência das chuvas.
Os contratos de energia convencional de longo prazo saíram de uma média de 160 reais por MWh em meados de dezembro para 177 reais nesta semana, alta de mais de 10 por cento, segundo dados da consultoria Dcide.