Por Michael Hirtzer e Marcelo Teixeira
CHICAGO/SÃO PAULO (Reuters) - As importações de etanol dos Estados Unidos para o Brasil devem subir nos próximos meses, conforme preços mais elevados da gasolina e uma baixa oferta de etanol aumentam a demanda no país, disseram dois operadores e duas corretoras ativas no mercado.
O movimento significaria um revés para os esforços do Brasil para conter as importações. O governo estabeleceu em setembro passado uma taxa de 20 por cento sobre importações de etanol que ultrapassem uma cota de 150 milhões de litros por trimestre, mas está avaliando rever a decisão devido a problemas de oferta.
As vendas de etanol dos EUA para o Brasil até o momento em janeiro já ultrapassaram a cota trimestral, disse um operador do mercado de combustíveis norte-americano com conhecimento direto de negociações.
"Mesmo com a tarifa de 20 por cento, a arbitragem está muito aberta para o Nordeste (do Brasil). Eles vão continuar comprando, porque precisam", disse um operador.
O sócio da corretora Bioagência, Tarcilo Rodrigues, disse que os produtores dos EUA podem embarcar até 450 milhões de litros de etanol no trimestre entre dezembro e fevereiro, três vezes a cota e um volume próximo a volumes recorde vistos no mesmo período do ano passado.
"Acredito que essa é uma situação que vai perdurar ao menos até abril, quando as usinas começam a processar a nova safra de cana-de-açúcar do centro-sul e os preços domésticos do etanol tendem a cair", disse Rodrigues.
Corretores brasileiros têm cotado o etanol dos EUA entregue em portos locais a cerca de 1,95 reais por litro, incluindo custos de transporte e taxas, incluindo a tarifa de importação de 20 por cento. O valor é menor que o do produto brasileiro, estimado em 2,15 reais por litro.
Os futuros do etanol de milho nos EUA eram negociados a 1,34 dólar por galão nesta quinta-feira, recuperando-se de mínima em uma década de 1,25 dólar atingida no mês anterior.
Os preços da gasolina já subiram mais de 20 por cento no Brasil desde julho, devido à alta nos preços do petróleo no mercado internacional, o que elevou a demanda por etanol como um substituto mais barato para o combustível.
Mas o Brasil atravessa um período de entressafra, e a maior parte das usinas locais não deve produzir mais etanol nos próximos meses.
O diretor da corretora de etanol SCA Etanol do Brasil, Martinho Ono, disse que alguns produtores brasileiros de açúcar e etanol no país estão convertendo etanol anidro, o mais comum nos EUA, para hidratado, utilizado no mercado doméstico em carros flex, que aceitam também gasolina.