SÃO PAULO (Reuters) - As vendas de soja por produtores do Brasil seguem firmes, mas não têm repetido nesta semana o mesmo ímpeto da passada, apesar da recente alta do dólar, disseram especialistas à Reuters nesta quarta-feira, citando um recuo nos prêmios para a oleaginosa nacional após uma correção para cima de preços na Bolsa de Chicago (CBOT).
Na última semana, o anúncio da imposição de tarifas pela China sobre a soja dos Estados Unidos levou o mercado a apostar em uma maior demanda pela commodity do Brasil, e os prêmios nos portos do país alcançaram níveis recordes.
De lá para cá, contudo, tais prêmios diminuíram, com os futuros da oleaginosa na CBOT recuperando-se de uma mínima inferior a 10 dólares para perto dos 10,50 dólares por bushel.
"Chicago fez uma correção da queda (recente)... Na semana passada, os prêmios explodiram a 1,90 dólar por bushel. Ontem já estavam em 1,25 dólar por bushel", afirmou o analista Adriano Gomes, da AgRural, ponderando que tal nível ainda supera muito os 24 centavos de dólar desta época do ano passado e os 16 centavos de dólar da média para o período.
A alta do dólar desde o início de abril, de cerca de 3 por cento, limitou um recuo maior nos prêmios --nesta quarta-feira, no entanto, a moeda norte-americana operava em baixa, distanciando-se da máxima desde o final de 2016.
Gomes ponderou que, ainda assim, têm saído "bons lotes" tanto de soja disponível quanto de safra 2017/18, que está entrando em reta final de colheita.
"Em algumas praças, os preços estão no maior nível desde 2016 com esse dólar acima de 3,40 reais... Ontem, em Rio Verde (GO), a referência era de 75 reais por saca no disponível. Em Paranaguá (PR), 87 reais por saca, também no disponível."
O consultor Luiz Fernando Roque, da Safras & Mercado, também avalia que o ritmo de comercialização de soja "acelerou bastante" desde o final de março, mas não está nesta semana com o mesmo vigor da anterior em virtude do enfraquecimentos dos prêmios, ainda "atípicos" para esta época.
"Nesta semana não foi tanto... Na semana passada, tranquilamente, foram mais de 1 milhão de toneladas. Nesta, pouco mais de 400 mil toneladas", destacou.
"Aceleramos bastante as vendas nos últimos dias, chegamos mais perto da média, mas continuamos atrasados... O produtor garantiu uma parte (da colheita) e começa a especular de novo", acrescentou.
Pelo levantamento mais recente da Safras & Mercado, até 6 de abril a comercialização de soja da safra 2017/18 alcançava 52 por cento da produção projetada, ante 55,2 por cento na média para o período.
O Brasil, maior exportador mundial de soja, deve colher um recorde neste ano, em volume próximo ao dos Estados Unidos.
Com isso, o país se posiciona de modo ainda mais competitivo no cenário externo, dado não só a tensão comercial entre EUA e China, mas também a quebra de safra na Argentina.
(Por José Roberto Gomes)