Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Projeções de chuvas abaixo do anteriormente esperado para outubro acenderam um sinal de alerta no setor elétrico, que agora aguarda ansiosamente as próximas semanas para tentar entender se haverá atraso no período úmido do Brasil, que tradicionalmente tem início em novembro.
Há uma expectativa no mercado de uma recuperação do cenário hidrológico no próximo mês, mas uma surpresa negativa, que não é descartada, poderia levar a preços mais altos da eletricidade e ao acionamento em novembro da bandeira amarela, que gera cobranças extras nas tarifas dos consumidores, afirmaram à Reuters especialistas do segmento.
Na sexta-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontou projeções de chuvas em torno de 77 por cento da média histórica em outubro no Sudeste, onde estão as hidrelétricas com maiores reservatórios.
O número ficou abaixo do esperado e levou o preço spot da energia elétrica, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), a 216 reais por megawatt-hora na carga média, ante uma aposta do mercado em um preço na casa dos 175 reais, segundo negociações registradas na plataforma eletrônica de venda de energia BBCE.
"A expectativa de todo mundo é que melhore, a minha inclusive. A gente acha que esse preço acima de 200 reais não se sustenta por muito tempo... mas é expectativa... a chuva hoje é muito incerta, a gente está completamente à mercê do que vai acontecer com a hidrologia", afirmou à Reuters o sócio da comercializadora Federal Energia, Erick Azevedo.
O quadro climático deverá trazer mais indicações ao longo de outubro, que ditará a tendência para o próximo mês, disse o sócio da comercializadora Compass, Marcelo Parodi.
Ele destacou, no entanto, que os preços em novembro deverão ser pressionados por mudanças regulatórias, como a redução da vazão mínima das hidrelétricas Xingó e Sobradinho, no São Francisco, cujos testes foram autorizados.
Também deverá impactar os preços uma projeção de maior consumo de energia no Paraguai, que deverá demandar mais energia de Itaipu.
"Se vier uma chuva na média ou um pouco acima, a tendência do PLD é de queda... mas em função dessas alterações regulatórias a gente acha que a chance de ter bandeira amarela é grande", explicou Parodi.
As projeções do ONS para outubro apresentam ainda elevada incerteza, com as afluências para o Sudeste podendo variar de um mínimo de 56 por cento e um máximo de 99 por cento, apontou o sócio da Compass. "A expectativa de hidrologia para outubro ainda é uma incógnita."
A Somar Meteorologia alertou nesta segunda-feira para o aparecimento de um período de tempo seco e quente a partir de meados de outubro em todo o centro e norte do Brasil.
A bandeira tarifária nas contas de luz de outubro foi definida na sexta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como verde, que não implica em custos extras para os consumidores.
Se ao final deste mês houver projeção de PLD acima de 211 reais por megawatt-hora para novembro, a bandeira pode ser definida como amarela, o que elevaria o custo da energia.