Por Roberto Samora e Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Chuvas em Mato Grosso, ainda que pouco volumosas e isoladas, levam produtores a iniciar o plantio de soja no Estado nesta semana, especialmente em áreas onde agricultores correm para posteriormente fazer uma segunda safra de algodão na temporada 2014/15.
O Mato Grosso, que deverá colher cerca de 30 por cento de uma safra brasileira de soja estimada em um recorde de mais de 90 milhões de toneladas, é o Estado que costuma liderar os trabalhos de plantio no Brasil, o segundo produtor global atrás dos Estados Unidos.
O principal Estado brasileiro produtor da oleaginosa deverá ter chuvas de até 20 milímetros em algumas áreas nesta semana, segundo a Somar Meteorologia, o que viabilizaria o início dos trabalhos a partir desta segunda-feira, com o fim do vazio sanitário --período marcado pela ausência de plantas no campo para reduzir a quantidade de esporos do fungo da ferrugem.
"Não tem dúvida de que qualquer gota de chuva que cair, o cara vai plantar", disse o agrometeorologista da Somar, Marco Antônio dos Santos, referindo-se ao produtor que quer antecipar o plantio para realizar a segunda safra de algodão.
Santos lembrou que partes de Mato Grosso têm reservas hídricas de chuvas do início do mês, o que faz com que muitos produtores arrisquem um plantio antes mesmo da regularização das chuvas de primavera, que devem acontecer somente a partir da segunda quinzena de outubro, de acordo com a Somar.
"Principalmente os grandes grupos, aqueles que fazem algodão na segunda safra, já estão plantando", acrescentou ele, ponderando que a semente de soja plantada em um solo estruturado aguenta cerca de 15 dias de período seco após uma chuva.
Segundo o agrometeorologista, o produtor que faz algodão "safrinha" está mais de olho na pluma do que na soja.
"Mesmo que ele perca cinco sacas por hectare de soja (por ter arriscado um plantio com o clima irregular), o algodão recupera essa perda da soja."
A janela ideial de plantio de algodão segunda safra vai de 25 de dezembro a 25 de janeiro, por isso a semeadura da soja precisa ser feita o mais rápido possível.
Essa urgência ganha importância em uma temporada em que a safra de algodão do Brasil deverá crescer em área e produção graças ao impulso da "safrinha", segundo previsão da Agroconsult.
"Grupos grandes começaram dois dias atrás já plantando 'no pó'. O objetivo deles é conseguir realizar uma boa segunda safra de algodão", disse o presidente Sindicato Rural de Sapezal (MT), Claudio Scariote. "Hoje já choveu. O tempo está fechado. E se essa chuva se confirmar essa semana, começa efetivamente a safra 2014/15."
Na próxima semana, a Somar prevê maiores volumes de chuva no Estado, quando alguns grupos acreditam que terão melhores condições para iniciar os trabalhos sem tanto risco.
"Hoje deu uma chuva muito pequena. O plantio aqui começa pelo 25, quando dá uma chuva boa", afirmou o gerente do Grupo Mutum, Luiz Divino da Silva, que coordena as atividades da empresa, pioneira da região na região de Nova Mutum (MT).
De qualquer forma, a regularização das precipitações, segundo a Somar, ocorrerá somente a partir da segunda semana de outubro, uma vez que o fenômeno climático El Niño está mais fraco do que o esperado, não tendo sido capaz de antecipar o período chuvoso.
"De hoje até os próximos 30 dias, as chuvas serão muito irregulares no Centro-Oeste", afirmou o meteorologista.
PARANÁ
Para o Paraná, segundo produtor de soja do Brasil, a Somar prevê melhores condições climáticas para o plantio esta semana.
No entanto, pelo zoneamento agrícola, só é possível plantar no Estado a partir do dia 20, lembrou o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.
"Acabou o vazio e, se tem chuvas, o produtor já quer plantar", destacou Turra.
A produção do Paraná está estimada em um recorde de mais de 17 milhões de toneladas, com produtores dedicando mais terras na primeira safra para a soja.