SÃO PAULO (Reuters) - Um protesto contra custos elevados do setor de transportes entrou nesta sexta-feira em seu terceiro dia, interrompendo por tempo indeterminado o fluxo de cargas em seis regiões de Mato Grosso, começando a ameaçar o fornecimento de soja para indústrias e portos nos próximos dias.
Os bloqueios ocorrem desde o início da manhã desta sexta-feira em quatro pontos da BR-163, responsável por escoar 70 por cento da safra de grãos de Mato Grosso, em Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop, segundo a Rota do Oeste, concessionária da rodovia.
Nesta sexta, os bloqueios foram ampliados também para a BR-364, em Campo Novo dos Parecis, e para a MT-358, em Tangará da Serra, segundo manifestantes.
"Está tudo parado. Em três ou quatro dias vai começar a dar problema para as indústrias que tenham estoques mais apertados, com repercussão também nos portos", disse à Reuters um gerente de armazém de uma trading multinacional de grãos em Nova Mutum, que pediu anonimato por não ter autorização para falar com a imprensa.
Segundo ele, caminhões com a soja que está sendo colhida são autorizados a chegar até os silos, mas carretas com destino a indústrias e portos estão sendo bloqueadas.
"Agora é por tempo indeterminado", disse um dos líderes do movimento, Gilson Pelicioni, dono de uma transportadora e vereador em Lucas do Rio Verde.
Os caminhões parados nos protestos desde quarta-feira vinham sendo liberados para seguir viagem no horário do almoço e à noite.
Na quinta-feira, houve formação de filas de até seis quilômetros, antes da liberação do tráfego à noite.
As manifestações são contra os altos custos enfrentados pelo setor e os baixos valores recebidos pelos fretes para transporte de grãos.
Transportadores de Mato Grosso reclamam do preço do diesel, que sofreu reajuste em 1º de fevereiro após um aumento de impostos pelo governo federal, apertando as margens no frete.
Um dos pedidos é que o governo estadual reduza a alíquota de ICMS cobrado no diesel e force empresas que contratam frete a seguir uma tabela de preços mínimos, que cubra os custos.
Uma reunião entre o governador de Mato Grosso, Pedro Taques, e os organizadores dos protestos está marcada para a tarde desta sexta-feira, em Cuiabá, informou o governo.
Pelicioni disse, no entanto, que duvida que o governador possa apresentar medidas concretas que atendam às reivindicações logo no primeiro encontro.
"Depois da reunião, vamos discutir se vamos permanecer como está, se vamos flexibilizar ou se vamos radicalizar ainda mais", afirmou o empresário.
A assessoria do governo do Estado disse que será um encontro para "ouvir reivindicações" e que não há informações sobre o que será apresentado pelo Executivo.
Na quarta-feira, a Secretaria da Fazenda de Mato Grosso afirmou que realiza um estudo técnico sobre o setor de combustível, que "não pode ser feito da noite para o dia, pois causaria um grande impacto nas contas do Estado", mas que há espaço para discussão.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) disse na noite de quinta-feira que o direito de manifestação é justo, mas que é preciso que os transportadores entendam que Mato Grosso está no período de pico de safra e que a radicalização neste momento pode atingir outros elos da cadeia.
"Precisamos que as propriedades sejam abastecidas com óleo diesel e ter garantido o transporte da soja para os armazéns", disse o presidente da Aprosoja, Ricardo Tomczyk, em nota.
(Por Gustavo Bonato)