Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Raízen, joint venture da Cosan (SA:CSAN3) com a petroleira Shell, e a Wilmar International formalizaram nesta terça-feira a criação de uma nova empresa, a RAW, que ampliará a concentração na exportação de açúcar do Brasil e deverá responder por aproximadamente 20 por cento dos embarques de um tipo de açúcar, o VHP, que domina as vendas externas do país.
A companhia afirmou que toda a produção do açúcar VHP da Raízen, de cerca de 3 milhões de toneladas ao ano, será exportada pela RAW, juntamente com a originação da Wilmar no Brasil, o que resultará em embarques totais de 4,5 milhões de toneladas.
A formação da nova empresa foi aprovada em março pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), sem restrições, apesar de ter sido questionada por alguns participantes do mercado, que na época lembraram que a principal concorrente da RAW, a Alvean (joint venture das gigantes Cargill e Copersucar), já concentrava boa parte do mercado.
Na temporada passada, a Alvean originou 5 milhões de toneladas de açúcar do Brasil, de um total de 11,5 milhões de toneladas comercializadas globalmente.
"O acordo (da RAW) representa a continuidade da consolidação da comercialização de açúcar de exportação", afirmou o presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, acrescentando que há espaço para essa concentração do setor exportador de açúcar prosseguir, ainda que ele tenha dito não ter informação sobre outros movimentos semelhantes, neste momento.
Segundo Nastari, acordos de concentração de empresas como os que resultaram na RAW e na Alvean, "significam uma integração maior do campo à mesa do consumidor, encurtando canais de comercialização", que, em última instância, podem reduzir o preço ao consumidor final.
A RAW, que terá sede em Cingapura, afirmou em nota que a empresa "unirá este volume significativo de exportação com a extensa carteira de clientes da Wilmar em distintos mercados do mundo e permitirá que a Raízen consolide ainda mais sua posição de liderança no mercado brasileiro".
SEM SAÍDA
Para o diretor da consultoria especializada em açúcar e etanol Job Economia, Julio Borges, esses movimentos de concentração não acontecem apenas no setor de açúcar, cujas exportação também têm participantes de grandes multinacionais que atuam individualmente, como a francesa Louis Dreyfus ou a norte-americana Bunge.
"É uma estratégia correta, considerando o movimento de concentração em diversos mercados. Isso é bom para quem? Para a RAW é estratégico, visando resultados melhores... margens melhores", disse Borges, acreditando que os pequenos exportadores tendem a desaparecer ou ficar à margem dos grandes.
"Para o consumidor, de forma geral, e não falo só em açúcar, a concentração de mercado não é boa. Cria-se um poder de oligopólio, formação de preços de oligopólio. Mas, por outro lado, as economias de escala (de grandes grupos) reduzem custos", afirmou o consultor, ponderando que, ainda assim, o "resultado para o consumidor é indeterminado", dependendo das condições de oferta e demanda.
O açúcar VHP ("Very High Polarization"), o produto que concentrará as operações da RAW, bastante apreciado por importadores pelo seu alto teor de sacarose, responde historicamente por cerca de 80 por cento das exportações totais da commodity do Brasil, que também inclui uma parcela menor do produto branco e refinado.
O volume total das exportações, de todos os tipos de açúcar, é estimado pela Job em cerca de 27 milhões de toneladas na temporada atual.