Por Kate Abnett e Elizabeth Piper
GLASGOW (Reuters) - O Reino Unido, que sedia em Glasgow a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima COP26, disse nesta quinta-feira que 77 países se comprometeram a gradativamente abandonar o uso do carvão, o combustível fóssil mais sujo e força motriz do aquecimento global, ao mesmo tempo que um estudo mostrou que as emissões de dióxido de carbono lançadas na atmosfera voltaram para os patamares anteriores à pandemia.
"Esperávamos ver alguma recuperação", disse o autor que liderou o estudo, Pierre Friedlingstein, pesquisador de modelagem climática na Universidade de Exeter. "O que nos surpreendeu foi a intensidade e rapidez da recuperação."
Alok Sharma, presidente britânico da COP26, disse que a reunião de duas semanas estava a caminho de encerrar gradualmente o uso do combustível mais usado no mundo --para o qual a demanda deve atingir um novo recorde neste ano.
Ele disse que nesta quinta 77 países assinaram uma promessa de encerrar gradualmente usinas de energia movidas a carvão --que produzem 35% da eletricidade do mundo-- e parar de construir novas unidades deste tipo.
"Hoje acho que posso dizer que o fim da era do carvão está à vista", disse Sharma na conferência.
Mas os obstáculos para se atingir a meta da ONU de zero emissões líquidas globais até 2050 ainda são enormes.
Muitos países em desenvolvimento, como China, Índia e Indonésia, dependem do carvão barato e acessível e de outros combustíveis fósseis para crescerem, apesar das desvantagens desses combustíveis para o meio ambiente e a saúde.
Na quarta-feira, o governo britânico disse que 190 países e organizações assinariam a promessa não-vinculante, pela qual os países ricos eliminariam o carvão até 2040 e os mais pobres antes de 2050.
Os países mais pobres certamente exigirão financiamento dos mais ricos como preço a ser pago para acabar com a dependência do carvão --e os países ricos fracassaram em cumprir uma promessa de fornecer 100 bilhões de dólares anuais em financiamento climático.
"Precisamos de financiamento para aposentar o carvão mais cedo e para construir as novas capacidades de energias renováveis", disse Sri Mulyani Indrawati, ministro das Finanças da Indonésia, país que é o maior exportador de carvão do mundo e depende do combustível para produzir 65% de sua energia.
O país se comprometeu com o encerramento gradual da geração de energia com carvão, mas não com o fim de financiamento a novas usinas.
Um dos principais objetivos das conversas da COP26 é obter promessas nacionais de corte de emissões de gases de efeito estufa, principalmente de petróleo, gás e carvão, que sejam suficientes para limitar o aumento da temperatura global média a 1,5 grau Celsius.
A ONU afirma que um aquecimento superior a 1,5ºC poderia levar a Terra a efeitos climáticos potencialmente irreversíveis que tornariam as tempestades, ondas de calor, secas e inundações que já estão acontecendo a serem cada vez mais intensas.