Por Hugh Bronstein
SALADILLO, Argentina (Reuters) - Há um ditado popular entre fazendeiros dos Pampas argentinos para se referir a tempos difíceis: "Retire a sela do cavalo até o sol sair." A frase tem começado a ecoar em cidades agrícolas como Saladillo depois da vitória dos peronistas nas eleições presidenciais do país no domingo.
A cidade que produz soja, milho e gado no cinturão agrícola da província de Buenos Aires foi um bastião de apoio ao presidente Mauricio Macri, visto localmente como um messias dos livres mercados quando eleito em 2015, após oito anos de protecionismo econômico e populismo.
Os fazendeiros "colocaram as celas" quando Macri foi eleito, aumentando o plantio em níveis recorde após o presidente ter retirado pesados controles comerciais e limites à exportação estabelecidos pela antecessora Cristina Fernández de Kirchner sobre o milho e o trigo.
Agora, ela está de volta como vice do presidente eleito Alberto Fernández, que assumirá o cargo em dezembro, e há muitas dúvidas sobre quais serão suas políticas para o setor agrícola, a principal fonte de dólares da Argentina.
Ao redor de Saladillo, uma cidade totalmente voltada ao agronegócio, produtores e comerciantes disseram acreditar que Fernández provavelmente aumentará impostos de exportação de grãos, o que afetaria seus lucros. Alguns temem um retorno total às políticas de Cristina Kirchner, que incluíram limites estritos de exportação durante seus mandatos(2007-2015).
"Se isso acontecer de novo, eu vou produzir o mínimo para sobreviver. 'Retirar a sela', em outras palavras, até que o mercado volte. Nós já fizemos isso antes. Podemos fazer de novo se preciso", disse Eduardo Bell, 63 anos, que tem uma fazenda de 2 mil hectares e produz gado.
Mas, apesar da popularidade em Saladillo, a imagem de Macri foi abalada em todo o país devido à alta inflação e à recessão. Ele chegou ao poder com promessas de "normalizar" a terceira maior economia da América Latina após distorções causadas por pesadas intervenções estatais nos mercados sob os peronistas que o antecederam.
Mas seus sinais políticos ortodoxos não foram suficientes para atrair investimentos estrangeiros diretos significativos para um país ainda atormentado por crises financeiras cíclicas e altos custos para fazer negócios. A economia caiu, a inflação disparou e o medo da dívida aumentou.
Macri também subestimou o efeito inflacionário de suas políticas fiscais, que incluíam cortes nos subsídios para serviços públicos, que aumentaram os custos de vida para eleitores já empobrecidos e pequenas empresas, incluindo agricultores.
QUEDA NA PRODUÇÃO
A Argentina é uma importante fornecedora global de soja, milho e trigo, assim como a maior exportadora de farelo de soja para ração animal, alimentando a mudança da dieta asiática do arroz para a proteína animal.
Mas as incertezas ao redor de Saladillo, uma calma comunidade de 27 mil habitantes, mostram incertezas para o setor agrícola, que apoiou Macri enquanto Fernández conquistava a Presidência no primeiro turno nas eleições de domingo.
"Eu temo que eles venham para cima do setor agrícola com todas aquelas políticas guiadas por visões de curto prazo que você puder imaginar. Como limites (cotas) para exportações e mais taxas sobre as exportações", disse Roberto Vaccarini, 60 anos, que negocia gado.
"A produção vai cair, o que significa menos investimento, e a economia agrícola vai estagnar", disse.
"Esses quatro anos foram ótimos para nós", afirmou um outro fazendeiro, que se identificou apenas como Oscar. "Mas nós não sabemos o que um governo Fernandes irá fazer."
A incerteza pode ser sentida pela cidade, apesar de alguns movimentos de Fernández para acalmar o setor agrícola.
"Fernández não nos disse exatamente quais são seus planos para o setor. Quando eles não falam quais são suas políticas, é porque estão escondendo algo", disse Ernesto Marcenaro, 55 anos, que gerencia uma empresa local de produtos agrícolas.
"Se ele quisesse transmitir confiança, ele diria que pretende manter os mercados abertos, apoiar a produção e promover as exportações."