Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A recomposição do rebanho suíno na China, dizimado pela peste suína africana (PSA), tem sido o motor para a firme demanda do país por soja, mas a velocidade deste processo representa também o principal ponto de atenção para as aquisições pelos chineses, principais compradores da oleaginosa do Brasil, disse à Reuters o Itaú BBA nesta terça-feira.
Mais cedo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elevou em 5% a projeção para as exportações globais de soja na safra de 2020/21, de 153,98 milhões de toneladas para 161,93 milhões de toneladas, com vendas lideradas pelo Brasil e EUA. A China deve responder pela importação de 96 milhões de toneladas no período.
"Caso tenha um arrefecimento na recomposição do rebanho chinês, esse será o nosso grande ponto de atenção, pois pode pressionar as cotações internacionais da soja", afirmou o gerente de consultoria Agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti.
A oleaginosa importada pelos chinesas é processada na indústria local e utilizada na alimentação dos suínos.
Apesar de acompanhar os indicadores de recomposição do rebanho, Bellotti não apontou qualquer problema neste momento na China, maior consumidor global de carne suína.
Segundo o especialista do banco, a recomposição do rebanho de suínos após o surto da PSA, iniciado no ano passado, é o principal balizador da atual demanda da China por soja.
O país asiático tem mantido o alto nível de aquisições do grão brasileiro, ao mesmo tempo em que amplia as importações da oleaginosa norte-americana em cumprimento à fase 1 do acordo comercial entre China e Estados Unidos.
O USDA projetou as exportações de soja do Brasil no novo ciclo em 83 milhões de toneladas, ante 84 milhões de toneladas em 2019/20.
Os embarques norte-americanos de soja para 2020/21 foram estimados em 55,8 milhões de toneladas pelo USDA.
"Podemos dizer que este foi o primeiro relatório que incorpora a retomada de compras da China para a soja norte-americana", disse Bellotti.
Ele alertou que este movimento entre os dois países que travaram uma guerra comercial no ano passado já reduziu o prêmio para as exportações brasileiras da oleaginosa nos portos.
Para março de 2021, o Itaú BBA vê os prêmios em 23 centavos de dólar por bushel, ante os 46 centavos de dólar registrados nesta temporada.
Além do ritmo de compras chinesas, o especialista acredita que "outra questão que pode mexer com preços no mercado da soja é o aumento na área plantada dos Estados Unidos".
Com o avanço, de acordo com o USDA, a produção norte-americana da oleaginosa deve alcançar 112,26 milhões de toneladas em 2020/21, enquanto o Brasil deverá produzir um recorde de 131 milhões de toneladas.
"Isso faz com que tenhamos um aumento na produção global (em 2020/21), na casa de 8%", disse Bellotti, o que torna ainda mais necessárias as importações da China em ritmo firme para manter o equilíbrio no mercado.