MOSCOU/LONDRES (Reuters) - A Rússia alertou que a partir de quinta-feira qualquer navio que viaje para os portos ucranianos do Mar Negro será visto como um potencial transporte de cargas militares, depois que a Ucrânia disse que estava estabelecendo uma rota marítima temporária para tentar seguir com suas exportações de grãos.
Os movimentos de ambos os países nesta quarta-feira ocorreram poucos dias após a Rússia desistir de um acordo -- mediado pelas Nações Unidas e pela Turquia -- que permitia a exportação segura de grãos ucranianos pelo Mar Negro no ano passado, e revogou as garantias de navegação segura.
A Ucrânia tem deixado claro que quer tentar continuar seus embarques de grãos no Mar Negro e disse à agência marítima da ONU, a Organização Marítima Internacional (IMO), que "decidiu estabelecer temporariamente uma rota marítima recomendada".
Mas o Ministério da Defesa da Rússia disse que consideraria todos os navios que viajam para a Ucrânia como potenciais transportadores de carga militar e "os países de bandeira desses navios serão considerados partes no conflito ucraniano".
Em um comunicado no aplicativo de mensagens Telegram, o ministério russo afirmou que a mudança começaria à meia-noite, horário de Moscou.
O Ministério da Defesa da Rússia não disse quais ações pode tomar.
A Rússia também declarou que as partes sudeste e noroeste das águas internacionais do Mar Negro estão temporariamente inseguras para navegação, disse o ministério, sem dar detalhes sobre as partes do mar que seriam afetadas.
"Isso ressalta que estamos tentando trabalhar e continuar trabalhando no que é efetivamente uma zona de guerra", disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, nesta quarta-feira, quando questionado sobre o alerta russo.
A Ucrânia acusa a Rússia de danificar a infraestrutura de exportação de grãos em ataques "infernais" durante a noite focados em dois de seus portos no Mar Negro.
"Nos portos que foram atacados hoje, havia cerca de um milhão de toneladas de alimentos armazenados. É precisamente essa quantidade que já deveria ter sido entregue aos países consumidores da África e Ásia", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, em seu discurso noturno em vídeo nesta quarta-feira.
Zelenskiy disse que o terminal mais danificado continha 60.000 toneladas de produtos agrícolas destinados ao embarque para a China.
O presidente russo, Vladimir Putin, acusou na quarta-feira os países ocidentais de deturparem o acordo de grãos do Mar Negro para seus próprios interesses, mas disse que a Rússia retornaria imediatamente ao acordo se todas as suas exigências em relação às suas próprias exportações fossem atendidas.
(Reportagem da Reuters)