Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Beneficiada por condições climáticas favoráveis, a safra de soja 2017/18 do Brasil que começa a ser colhida deverá superar 110 milhões de toneladas, de acordo com pesquisa realizada pela Reuters, que aponta aumento de quase 800 mil toneladas ante sondagem publicada em novembro.
Conforme a média de estimativas de 11 consultorias e outras instituições, o Brasil caminha para colher sua segunda maior safra da história: 110,19 milhões de toneladas, inferior apenas às 114 milhões de 2016/17 e acima das 109,43 milhões consideradas no levantamento anterior.
Já a área ocupada pela oleaginosa no ciclo deve alcançar um recorde de 34,90 milhões de hectares, superior tanto aos 33,91 milhões da temporada passada, quanto aos 34,80 milhões previstos na última pesquisa, uma vez que a cultura avançou sobre o milho de primeira safra, o "verão" (mais informações abaixo).
Praticamente todas consultorias e instituições revisaram seus números para cima ou ao menos os mantiveram. Apenas a Safras & Mercado cortou sua previsão, mas ainda figura como a mais otimista, ao apostar em uma produção de 114,56 milhões de toneladas.
Liberada desde setembro, a semeadura da soja levantou preocupações por causa da seca e só foi engrenar mesmo no final de outubro, com o retorno das chuvas. Desde então, a umidade têm beneficiado as plantações, em estágio final de desenvolvimento em boa parte das regiões.
Apesar de volumosas, as precipitações em geral não são duradouras, garantindo incidência solar à soja.
"Por enquanto as condições gerais da safra são muito boas. Apenas com alguns pontos isolados de problema com a falta de umidade, como é o caso do Rio Grande do Sul. Mas já resolvidos com as chuvas recentes", afirmou o diretor da França Junior Consultoria, Flávio França Junior, que elevou sua estimativa de produção para 112,55 milhões de toneladas, de 112,38 milhões na pesquisa de novembro.
A INTL FCStone disse que "mesmo com os atrasos no plantio, devido à demora da normalização das chuvas, atualmente as condições das lavouras estão muito favoráveis e o clima está contribuindo para a perspectiva positiva".
A consultoria espera área plantada de 34,98 milhões de hectares, com produção de 110,10 milhões de toneladas, um salto frente as 106,7 milhões de toneladas esperadas em sua primeira estimativa, de setembro.
Até 19 de janeiro, deve chover bem em Mato Grosso, Goiás, Paraná e na fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), com acumulados superando os 100 milímetros em praticamente todas essas áreas, de acordo com o Agriculture Weather Dashboard, do terminal Eikon da Thomson Reuters.
Já no Rio Grande do Sul deve chover menos, com as precipitações não passando de 34 milímetros nesse período.
MILHO "VERÃO"
Os bons números esperados para a soja, seja em área ou produção, não devem ser observados no milho de primeira safra, colhido no verão.
Apesar de condições climáticas também favoráveis, a cultura contou neste ano com uma semeadura consideravelmente menor, reflexo dos baixos preços no ano passado, o que deve impactar no tamanho da colheita.
Conforme a média de oito estimativas de consultorias e instituições obtidas pela Reuters, a área de milho "verão" deve cair 11 por cento em 2017/18 ante 2016/17, para 4,88 milhões de hectares.
Já a produção deve atingir 25,27 milhões de toneladas, recuo de 17 por cento na mesma base de comparação.
"Os reflexos dos preços pressionados do milho já foram refletidos na safra de verão 2017/18", resumiu o Rabobank, que estima produção de 25 milhões de toneladas do cereal em uma área de 4,9 milhões de hectares, quedas de 18 e 10 por cento, respectivamente, ante 2016/17.
Entretanto, o banco avalia que essa menor colheita, aliada a um consumo ainda consistente, levará os preços do milho a serem mais altos nesta temporada.
"A perspectiva é que os preços do indicador do milho Esalq/BM&F tenham média entre 31 e 32,90 reais por saca na safra 2017/18, ante um valor de 30 reais por saca em 2016/17", afirmou o Rabobank em relatório.
"O clima também está, no geral, favorável. Somente no Rio Grande do Sul, onde as condições estão mais secas, que há alguma preocupação com impactos negativos sobre as lavouras. De qualquer maneira, a produtividade estimada para o Estado já está mais baixa que o alcançado no ciclo anterior", acrescentou a INTL FCStone.