Por Nayara Figueiredo e Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja do Brasil deve alcançar 155 milhões de toneladas em 2022/23, mas poderia estar perto de 160 milhões de toneladas, não fosse uma seca no Rio Grande do Sul devido ao fenômeno climático La Niña, que reduziu o potencial produtivo nacional, avaliou nesta terça-feira a Agroconsult.
Após análises técnicas durante a expedição Rally da Safra, a consultoria elevou sua projeção para a colheita de soja do país, ante os 153 milhões divulgados anteriormente.
Em relação a janeiro, quando começou a expedição, a Agroconsult observou avanços nos índices de produção de oito Estados, com destaque para Mato Grosso, e recuo apenas nas lavouras gaúchas --considerando que dentro do Rio Grande do Sul há casos de produtividades muito negativas, mas também de lavouras "cheias".
"Faltaram algumas chuvas... Se não fosse essa quebra no Rio Grande do Sul estaríamos falando em uma safra de 160 milhões de toneladas", disse o coordenador técnico do Rally da Safra, Valmir Assarice, em apresentação transmitida pela internet.
Ele ressaltou ainda que, nos próximos anos, essa marca deve se materializar.
A produtividade da soja gaúcha foi estimada em 36,7 sacas por hectare, quase 36% acima do rendimento obtido na temporada anterior, quando o Estado foi ainda mais castigado pela seca.
Apesar do avanço, o número é bem abaixo da produtividade de 58,5 sacas por hectare registrada em 2020/21 e também da média nacional para esta safra, de 59,1 sacas por hectare.
"Ainda tem muita soja enchendo grão... ainda faltam chuvas para confirmar a estimativa", comentou o especialista.
No Paraná, o atraso na colheita em relação a anos anteriores não foi suficiente para reduzir os rendimentos na lavoura, muito pelo contrário. A produtividade foi vista com um firme avanço de 65,2% sobre o ano anterior.
"Apesar de ter sido um ano de La Niña... o La Niña não exerceu tanta influência no Paraná como no Rio Grande do Sul."
E em Mato Grosso, a avaliação da Agroconsult indica mais um ano de avanço na produtividade, para 63,5 sacas por hectare, aumento de quase 4% ante 2021/22, diante de clima favorável e também bom manejo nas lavouras, disse Assarice.
Com a oferta nacional neste patamar e a quebra na safra da oleaginosa na Argentina, principalmente, o CEO da Agroconsult, André Pessôa, disse que as exportações brasileiras do grão podem atingir o recorde de 96,1 milhões de toneladas neste ano, aumento de 22%.
O esmagamento foi projetado em 53,9 milhões de toneladas, também com avanço, de 7%.
Pessôa ressaltou que os preços da soja só não estão menores no Brasil, porque a Argentina contribui para segurar uma queda mais intensa, que seria trazida pela safra recorde brasileira.
MILHO
A produção e as exportações brasileiras de milho devem atingir novas máximas históricas, com uma colheita estimada em 125,5 milhões de toneladas na safra 2022/23 e os embarques com potencial para alcançar 51,9 milhões de toneladas no ano, de acordo com a Agroconsult.
A expectativa para o milho é inferior aos 130,9 milhões estimados pela consultoria em janeiro, diante de uma projeção inicial de crescimento para a área de plantio da segunda safra que não se confirmou e deve ficar estável em 16,7 milhões de hectares.
A área total do cereal foi estimada em 22 milhões de hectares, uma ligeira redução de 0,8% no comparativo anual.
Ainda assim, a projeção para a produção total de milho supera em 6,2% a colheita da temporada passada.
Do total, cerca de 97,2 milhões de toneladas devem ser colhidas na segunda safra, que está sendo semeada no país, com atraso em diversos Estados em função de um alongamento no ciclo da soja. Se confirmado, o volume representará uma alta de 5,4% sobre a "safrinha" da temporada anterior.
Com o aumento na oferta de milho Brasil e firme demanda internacional, a consultoria acredita que há espaço para que o país envie mais de 50 milhões de toneladas ao exterior.
"Daqui para frente devemos rivalizar com os Estados Unidos como maiores exportadores de milho", disse o CEO da Agroconsult.
Ele lembrou que a quebra na safra argentina e a menor oferta de milho na Ucrânia, diante da redução de plantio causada pela guerra com a Rússia, devem influenciar os embarques do Brasil, considerando também a abertura da China para compra do cereal brasileiro.
(Reportagem de Ana Mano e Nayara Figueiredo)