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Setor de soja do Brasil se prepara para possível fim de guerra comercial EUA-China

Publicado 03.12.2018, 19:40
© Reuters. Produtor observa lavoura de soja em Barreiras, no Estado da Bahia
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Por Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) - Produtores brasileiros de soja antecipam uma queda nos preços se a China suspender tarifas sobre a soja norte-americana em março, quando novos termos de comércio entre as duas maiores economias do mundo podem ser divulgados, e as nações sul-americanas estarão colhendo suas safras.

Se a tarifa de 25 por cento da China sobre a soja dos EUA fosse retirada em março, o produto norte-americano poderia inundar o mercado, assim como os grãos do Brasil e da Argentina, disse o diretor-executivo da associação de produtores Aprosoja-MT, Wellington Andrade.

No caso de a tarifa ser suspensa em março, a decisão poderia coincidir com o período em que a colheita do Brasil estará avançada.

"Se (as tarifas forem eliminadas) a partir de março, você pega bem no final da colheita da soja. No momento você está escoando grãos. Como faz para vender a soja? O mercado interno não absorve toda ela", afirmou Andrade.

Washington e Pequim selaram uma trégua de 90 dias em relação à imposição de novas tarifas na reunião de sábado do G20, impulsionando os contratos futuros de soja nos EUA ao maior nível desde agosto.

O presidente da China, Xi Jinping, também prometeu comprar mais produtos agrícolas de produtores dos EUA.

Mesmo que os futuros tenham subido em Chicago, os prêmios no porto de Paranaguá caíram 0,10 de dólar por bushel e a moeda brasileira caiu, tornando os preços da soja em reais menos atraentes para os agricultores, disse o presidente-executivo da AgriBrasil, Frederico Humberg.

À medida que os preços do Brasil se aproximam dos preços americanos, ele disse que mesmo que a China elimine as tarifas, as exportações do rival brasileiro para a China tenderão a ser limitadas no curto prazo, já que o Brasil está perto de iniciar a colheita, na segunda metade de dezembro.

A guerra comercial pode ter criado oportunidades de curto prazo, mas é ruim no longo prazo, destacou o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.

"Se a China abre todas a comportas para a soja americana, é claro que não poderemos exportar nos níveis recordes deste ano", disse Mendes.

As exportações de soja do Brasil devem fechar 2018 em um recorde de cerca de 82,5 milhões de toneladas, ante aproximadamente 68 milhões no ano passado, projetou nesta segunda-feira a Anec, destacando o apetite chinês como importante fator por trás desse salto.

No acumulado dos 11 primeiros meses do ano, as vendas ao exterior alcançaram 80,1 milhões de toneladas, alta de 22,6 por cento ante igual intervalo de 2017. Do total, 82 por cento foi para a China.

© Reuters. Produtor observa lavoura de soja em Barreiras, no Estado da Bahia

Mendes acredita que, sejam quais forem os termos de um possível acordo, os preços da soja podem cair de qualquer maneira em março, porque a grande safra do Brasil já estará disponível.

"Para a China, o Brasil sempre será fornecedor muito difícil de ser substituído."

(Reportagem de Ana Mano)

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