SÃO PAULO (Reuters) - O quadro do setor de petróleo no Brasil é de alerta devido à redução de investimentos da Petrobras (SA:PETR4) em meio à queda dos preços do petróleo e pela recessão econômica do Brasil, disse nesta quarta-feira o diretor do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Flávio Rodrigues.
Em palestra na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ele afirmou que o resultado fraco do último leilão governamental de áreas de exploração deveria gerar reflexão sobre atratividade do país para investimentos no setor, incluindo mudanças no modelo de conteúdo local e no sistema de partilha para o pré-sal.
"Há uma necessidade de olhar o setor e seus aspectos regulatórios de uma forma mais ampla. Será que a regulação traz um nível de risco adequado ao retorno que os investidores estão procurando?", questionou Rodrigues.
O executivo do IBP, que reúne empresas da indústria de petróleo local, disse que é necessário rever regras como as exigências de conteúdo nacional no setor, bem como o regime de partilha de produção, possibilitando a atuação de diversos operadores nas áreas do pré-sal, que hoje precisam ter a Petrobras obrigatoriamente como sócia operadora de todos os blocos.
"O setor entende que é adequado, necessário e premente que se abra para que outros operadores possam atuar no pré-sal", apontou Rodrigues, que citou dúvidas sobre a capacidade da Petrobras de entrar em novas licitações neste momento.
A Petrobras anunciou no início de outubro redução de 18 bilhões de dólares, ou 16 por cento, na previsão de gastos operacionais e investimentos para este e o próximo ano, devido à queda nos preços de petróleo e à desvalorização do real frente ao dólar.
A estatal sofre pressão adicional considerando os custos mais altos para exploração do pré-sal.
No mesmo evento, o diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo, Eloi Fernandez, afirmou em sua apresentação que o setor de petróleo passa por um "momento crítico para a indústria".
Ele também atacou as regras de conteúdo local, "que não agradam ninguém na indústria, nem os concessionários e nem os fornecedores".
Defensor de uma modernização da legislação, Fernandez também afirmou que a indústria de petróleo brasileira sofre hoje dificuldades decorrentes da característica do setor, de forte dependência de um único comprador, a Petrobras.
"Isso leva a essas dificuldades que estamos vendo hoje... quando dá um problema com esse cliente, para tudo", disse.
O executivo da Onip também mostrou preocupação quanto à competitividade do petróleo do Brasil em um cenário de excesso de oferta global e forte disputa pelo mercado entre os produtores.
"Para que o pré-sal se viabiize, temos que ter preço do barril acima dos 50 dólares, para que essa atividade permaneça viável", disse Fernandez.
Na terça-feira, o presidente da Petróleo Pré-Sal SA (PPSA), Oswaldo Pedrosa, citou um valor um pouco maior. Ele disse que as áreas do pré-sal em produção precisam que os preços do petróleo sejam superiores a 55 dólares o barril para serem economicamente viáveis.
A Petrobras, por sua vez, reafirmou que está aumentando a sua capacidade de produção de petróleo e gás no pré-sal brasileiro de modo "economicamente viável".
(Por Luciano Costa)