SÃO PAULO (Reuters) - As distribuidoras de eletricidade devem conseguir reduzir ainda mais o excesso de energia contratada para este ano, resultante da queda do consumo em meio à crise econômica do país, por meio de uma nova rodada para renegociação de contratos de compra fechados junto a geradores, afirmou à Reuters nesta quinta-feira um dirigente do setor.
As sobras podem impactar os consumidores, uma vez que a legislação permite que as distribuidoras repassem para a tarifa parte dos custos com a compra dessa energia. Também podem afetar as próprias concessionárias, que a partir de determinado nível de sobrecontratação são obrigadas a vender o excedente no mercado spot de eletricidade, onde os preços atualmente estão em um nível que geraria prejuízos na operação.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) já realizou duas chamadas para que distribuidoras e geradores participem de um mecanismo de ajuste dos contratos, o chamado Mecanismo de Compensação de Sobras e Déficits (MCSD), e uma terceira rodada ainda será realizada até 21 de outubro, atendendo a pedidos das empresas.
"Foi uma demanda do mercado como um todo. É nítida essa questão da necessidade de a gente ajustar a questão da sobrecontratação das distribuidoras e o MCSD é um caminho bastante adequado para isso, por isso está sendo feita mais uma rodada... A expectativa sem dúvida é que haja uma acomodação melhor dessa sobrecontratação", explicou o conselheiro da CCEE, Roberto Castro, nos bastidores de evento do setor em São Paulo.
Pelo MCSD, as distribuidoras podem reduzir contratos fechados anteriormente com novas usinas, que podem aproveitar a oportunidade para mitigar eventuais perdas financeiras decorrentes de atrasos no cronograma ou para revender a eletricidade no mercado livre, no qual grandes clientes, como industrias, compram energia diretamente dos geradores e comercializadores.
Segundo a CCEE, as distribuidoras possuem atualmente um nível médio de sobrecontratação de 7,1 por cento em relação à demanda dos clientes. Em abril, a Abradee, associação que reúne os investidores em distribuição, chegou a estimar que as sobras chegariam a 13,3 por cento da carga.
As duas rodadas já realizadas do MCSD levaram à redução de 844 megawatts médios em contratos, mas houve demanda das distribuidoras para reduzir os compromissos em cerca de 6 mil megawatts.
Excedentes contratuais de até 5 por cento têm o custo de compra da energia repassado para os consumidores, enquanto o que passa disso tem que ser vendido pelas distribuidoras no mercado spot de eletricidade, o que no atual cenário gera prejuízo porque os preços spot estão abaixo dos pagos pelas empresas na compra da energia.
(Por Luciano Costa)