Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Paraná e Rio Grande do Sul, Estados com potencial de colher 85 por cento do trigo do Brasil em 2018, estão recebendo chuvas intensas que prejudicam os campos neste estágio da safra, e há previsões de mais precipitações que podem resultar em perdas de qualidade do grão pronto para colheita, afirmaram órgãos oficiais nesta quinta-feira.
Pela última estimativa do Ministério da Agricultura, o Paraná deverá colher cerca de 3 milhões de toneladas de trigo, enquanto o Rio Grande do Sul tem safra estimada em 1,4 milhão de toneladas, de um total projetado para o país de 5,2 milhões de toneladas.
"Deve entrar bastante coisa nas próximas duas semanas em ponto de colheita. Se tiver muitos dias seguidos de chuva, se continuar muito nublado, sem sol, pode gerar problema", afirmou o especialista em trigo do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, Carlos Hugo Godinho, ao ser consultado pela Reuters.
Algumas áreas do Estado, como o centro-oeste, devem receber mais de 200 milímetros de chuvas até o dia 19 de outubro, segundo dados do Refinitiv Eikon. O norte do Paraná receberá no mesmo período de 150 a 175 mm de precipitações, volumes todos que estão acima da média para o período.
Perdas em lavouras do Sul podem eventualmente elevar a necessidade de importações pelo Brasil, um dos maiores importadores globais do cereal, que busca a maior parte do produto importado na Argentina.
Diante da expectativa de fortes chuvas, disse Godinho, produtores do Paraná correram com os trabalhos de colheita recentemente.
"Avançou bem a colheita mesmo em uma semana que não foi propícia (em função de chuvas). Preocupado, o produtor já olhando pra frente, ele achou melhor colher agora mesmo sem uma situação ideal, pensando que se tentasse achar o ótimo ele perderia o bonde", disse.
Chuvas em período de colheita podem afetar a qualidade do cereal, reduzindo o valor pago pelo produto.
A colheita havia avançado para 47 por cento da área até o início da semana, mas está atrasada na comparação ao índice de 71 por cento do mesmo período do ano passado, quando o tempo seco favoreceu os trabalhos.
Ele disse que, mesmo para as lavouras ainda em estágio de frutificação, as chuvas previstas não são adequadas, devido ao risco de doenças fúngicas.
No Rio Grande do Sul vai chover menos até o próximo dia 19, mas as chuvas nos últimos 15 dias foram volumosas, de mais de 100 mm, ficando acima da média ao sul do Estado, segundo dados do Refinitiv Eikon.
"O clima adverso dos últimos dias, com chuvas intensas acompanhadas de granizo e ventos fortes, causou acamamento das plantas em diversas lavouras", disse a Emater-RS, o órgão de assistência técnica do Rio Grande do Sul em relatório nesta quinta-feira.
"No Noroeste do Estado, segundo relato de técnicos dessa região, há várias áreas afetadas, fato que deverá trazer prejuízo aos triticultores afetados", acrescentou a Emater, ressaltando que no momento é prematura qualquer inferência sobre o impacto das chuvas.
Segundo a Emater, a preocupação maior dos produtores é com a persistência do tempo úmido e quente prevista para as próximas semanas.
"A se concretizar esse cenário, mais que a quantidade, é a qualidade final do grão que poderá sofrer sérios danos, resultando em um produto final de baixo valor" disse a Emater.
No Rio Grande do Sul, 88 por cento das lavouras estão entre a fase final de enchimento de grãos e a de início da maturação, segundo o órgão.
(Por Roberto Samora)