Por Timothy Gardner
WASHINGTON (Reuters) - O presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, em meio a diversos tuítes disparados nesta segunda-feira, que os Estados Unidos se tornaram um produtor de petróleo tão grande que não precisa mais do Oriente Médio, após os ataques perpetrados no fim de semana a instalações de petróleo na Arábia Saudita.
Os dados do governo dos EUA, no entanto, contam uma história diferente: o boom de perfuração nos EUA, impulsionado pela tecnologia e iniciado há mais de uma década, transformou os Estados Unidos em um grande produtor, mas as importações de petróleo e derivados da região do Golfo no ano passado ainda foram abundantes.
"De maneira geral, ainda estamos importando um pouco e não estamos totalmente imunes ao mercado mundial", disse Jean-François Seznec, membro do Centro Global de Energia do Conselho Atlântico, durante conversa por telefone com repórteres nesta segunda-feira.
O Irã negou as acusações dos EUA sobre a responsabilidade pelos ataques do fim de semana, que danificaram a maior instalação de processamento de petróleo do mundo na Arábia Saudita e provocaram o maior salto nos preços do petróleo em décadas.
A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo, embarcando cerca de 7 milhões de barris de petróleo por dia para todo o mundo. Os Estados Unidos produzem cerca de 12 milhões de barris por dia, mas consomem 20 milhões de barris por dia, o que significa que devem importar o restante.
Grande parte do déficit dos EUA é coberto pelo Canadá, mas alguns ainda vêm da Arábia Saudita, Iraque e outras nações do Golfo, porque várias refinarias norte-americanas preferem seu petróleo. Como exemplo, a maior refinaria dos EUA - Motiva Enterprises em Port Arthur, Texas - é de propriedade da empresa estatal de energia da Arábia Saudita, a Saudi Aramco.
Outras refinarias - especialmente na Califórnia - estão isoladas dos grandes campos de petróleo dos EUA e também devem depender de carregamentos.
A incompatibilidade entre o que as refinarias dos EUA querem e o que o país produz significa que, em 2018, os Estados Unidos importaram uma média de 48 milhões de barris por mês de petróleo e derivados da região do Golfo, segundo a Administração de Informação sobre Energia dos EUA.
Esse volume caiu cerca de um terço em relação a uma década atrás, à medida que a produção doméstica de petróleo e gás disparou, segundo os dados.
Phillip Cornell, outro membro do Conselho Atlântico, que costumava aconselhar a Saudi Aramco, chamou o tuíte de Trump de "absurdo".
"Ele é um cara que gosta de hipérbole", disse.
Sarah Emerson, presidente da ESAI Energy, disse que a interrupção da produção na Arábia Saudita, se for prolongada, pode propiciar uma oportunidade para os produtores de petróleo dos EUA expandirem seus mercados no exterior.
(Reportagem adicional de Valerie Volcovici)