Por Graham Fahy e Gabriela Baczynska
DUBLIN/BRUXELAS (Reuters) - A União Europeia aumentou a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) nesta sexta-feira por conta dos incêndios que vêm devastando a Bacia Amazônica, com a Irlanda e a França dizendo que podem travar o acordo comercial do bloco com a América do Sul.
Bolsonaro rejeitou o que chama de interferência estrangeira em assuntos domésticos do Brasil, onde vastos trechos da floresta tropical da Amazônia estão em chamas durante a conhecida como estação das queimadas. O presidente disse que o exército poderá ser enviado para ajudar a combater os incêndios.
Ambientalistas culparam o desmatamento pelo aumento dos incêndios e acusaram o presidente de afrouxar os mecanismos de proteção da floresta tropical, que é considerada crucial no combate à mudança climática global.
O gabinete do presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Bolsonaro mentiu quando minimizou as preocupações com a mudança climática na cúpula do G20 no Japão em junho e que, diante disso, a França se oporá ao acordo firmado entre a UE e o Mercosul, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse que o país votará contra o acordo de livre comércio a menos que o Brasil adote ações para proteger a floresta tropical.
Varadkar se disse muito preocupado com os níveis recordes de destruição da floresta tropical e que seu governo monitorará atentamente as ações ambientais do Brasil nos dois anos necessários para a ratificação do pacto com o Mercosul.
"A Irlanda não votará de jeito nenhum a favor do Acordo de livre comércio entre UE e Mercosul se o Brasil não honrar seus compromissos ambientais", disse ele em um comunicado.
A Irlanda e a França precisarão de outros países da UE para formar uma minoria suficiente para bloquear o acordo, fechado em junho, depois de 20 anos de negociações.
Mas o governo irlandês está sendo pressionado a defender seus pecuaristas, que já sofrem com a saída iminente do Reino Unido da UE e os preços baixos, procurando fazer com que as nações do Mercosul não inundem o mercado com carne bovina mais barata.
Mas o braço executivo da UE, a Comissão Europeia, alertou contra o acordo, dizendo que isso pode ajudar a pressionar o Brasil.
"Esta é a melhor maneira de criar compromissos vinculantes legais com os países que queremos que respeitem nossos padrões ambientais", disse a porta-voz da Comissão, Mina Andreeva. "A melhor ferramenta que temos é acordo entre UE e Mercosul."
Ela acrescentou que o texto incluirá mecanismos punitivos a serem usados casos certas condições relacionadas ao clima não sejam atendidas.
A Finlândia, que atualmente ocupa a presidência rotativa do bloco, sugeriu uma proibição às importações de carne bovina brasileira. O primeiro-ministro Antti Rinne disse que os incêndios são "uma ameaça para todo o nosso planeta, não apenas para o Brasil ou a América do Sul."
"Precisamos descobrir se os europeus têm algo a oferecer ao Brasil para ajudar a evitar esse tipo de incêndio no futuro", acrescentou.
O ministro das Finanças da Finlândia disse que levantará a questão com seus colegas da UE em uma reunião em Helsinque em 13 e 14 de setembro.
Os líderes das economias mais avançadas do mundo também devem discutir o assunto quando se encontrarem para a cúpula do G7 na França neste final de semana.