SÃO PAULO (Reuters) - A moagem de cana do centro-sul do Brasil na temporada 2016/17 poderá cair em relação à temporada anterior, considerando o atual ritmo de colheita e a produtividade agrícola, enquanto a fabricação de açúcar deverá crescer fortemente, com o setor destinando mais matéria-prima para o adoçante, mais lucrativo que o etanol.
A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) afirmou nesta sexta-feira que a moagem da região que responde por cerca de 90 por cento da produção de cana do Brasil deverá ficar próxima do limite inferior da previsão publicada pela associação de produtores em abril deste ano, que varia de 605 milhões a 630 milhões de toneladas.
Na temporada passada, a moagem somou um recorde 617,7 milhões de toneladas.
A previsão considera que a queda na moagem poderá ocorrer se for mantido o ritmo de produção observado até o momento e a tendência de queda na produtividade agrícola da lavoura colhida, afirmou a Unica em nota.
Consultorias como a FCStone e a Datagro já tinham alertado para essa possibilidade de queda na moagem, com a safra tendo sido afetada por seca e até por geadas.
Dados preliminares apurados pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) indicam que a quebra da produtividade agrícola no centro-sul, variando de 1,48 por cento em Minas Gerais a 15,83 por cento no Estado de Goiás na primeira quinzena de setembro, em comparação ao mesmo período de 2015, disse a Unica nesta sexta-feira.
Com relação à qualidade da matéria-prima do centro-sul, a concentração de açúcar na cana (medida pelo ATR) permanece praticamente estável, recuando no acumulado da safra apenas 0,29 por cento.
O grupo que reúne as usinas do centro-sul, no entanto, divulgou que a moagem está maior na comparação com o mesmo período do ano passado, sem fazer mais considerações, se a safra será mais curta do que a registrada no ano passado, por exemplo.
A moagem no acumulado da safra 16/17 até 16 de setembro atingiu 431,3 milhões de toneladas, com alta de 7,87 por cento, após o processamento ter crescido 26,87 por cento na primeira quinzena de setembro ante o mesmo período ano passado, mas caído ligeiramente ante a segunda quinzena de agosto.
AÇÚCAR EM ALTA
Por outro lado, a Unica acrescentou que a produção final de açúcar na safra deve atingir valor próximo do limite superior divulgado inicialmente (de 33,5 a 35 milhões de toneladas), com usinas privilegiando a fabricação do adoçante, devido a bons preços.
Isso significa que a produção deverá crescer fortemente na comparação com o total de 31,2 milhões de toneladas da temporada passada, com o total de cana destinado para o açúcar em 45,9 por cento no acumulado desta safra, ante 41,6 por cento no mesmo período em 2015/16.
No acumulado da safra, a produção de açúcar disparou 19,25 por cento, para 24,8 milhões de toneladas.
Já a produção de etanol "deve ficar aquém do mínimo estimado (no intervalo de 27,5 bilhões a 28,7 bilhões de litros), com destaque para a retração na oferta de etanol hidratado", que tem perdido mercado para a gasolina nas vendas.
A produção de etanol atingiu 28,2 bilhões de litros na temporada passada, com o hidratado somando 17,58 bilhões de litros.
Na acumulado da safra atual, a produção de etanol hidratado soma 10,6 bilhões de litros, queda de 6,64 ante o mesmo período do ano passado, enquanto a produção total (incluindo anidro) está em cerca de 18 bilhões de litros, praticamente estável.
(Por Roberto Samora)