SÃO PAULO (Reuters) - Apesar de bons preços do café, as vendas antecipadas da próxima colheita do Brasil (2022/23) "andaram muito pouco ao longo do último mês", disse a consultoria Safras & Mercado nesta sexta-feira, citando incertezas relacionadas ao potencial produtivo e também a expectativa de que as cotações avancem mais.
O café arábica na bolsa ICE, em Nova York, está no maior patamar em quase 10 anos, refletindo preocupações com a oferta pelo tempo adverso.
Mesmo assim, as vendas da safra 2022/23 do maior produtor e exportador de café avançaram apenas um ponto percentual no último mês até o dia 12 de novembro, para 26% do potencial produtivo, disse a consultoria, acrescentando que a indicação está sujeita a ajuste, uma vez que há indefinições sobre o tamanho da produção.
"Dúvidas produtivas, ruídos de falta de entrega de café e aposta na sequência de alta nos preços justificam esse comportamento do vendedor", disse o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach, em nota.
Ele acrescentou que o "spread" curto para as posições mais longas na bolsa ICE também acabaram tirando um pouco do interesse de venda, comenta.
O primeiro contrato do café arábica na ICE estava cotado a cerca de 2,369 dólares por libra-peso, por volta das 13h30 (horário de Brasília), mais valorizado que os mais distantes.
Segundo ele, o preço ficou ainda mais atrativo por conta da puxada na bolsa e pelo dólar firme.
O analista disse que prevalece a ideia de que o mercado ainda tem potencial para mais ganhos, por não refletir, em sua plenitude, as perdas no potencial produtivo da próxima safra brasileira, impactada pelas geadas e também da seca prolongada mais cedo neste ano.
"Queda de chumbinho e abortamento se contrapõem ao visual das floradas. E essa ideia baliza a ação dos vendedores, especialmente daqueles que entregaram café na atual safra (negociações a termo) a preços abaixo da cotação praticada no mercado atualmente", ponderou.
Segundo ele, produtores trabalham com a ideia de postergar ao máximo a venda, apostando na alta nos preços e arriscar para vender o mais próximo da máxima.
"Com isso, compensar fixações a preços mais baixos da safra passada. O percentual já alto de comprometimento da safra brasileira 2022 e o movimento ascendente dos preços favorecem essa estratégia dos vendedores", afirma o consultor.
No caso do arábica, o comprometimento de vendas do produtor brasileiro alcança 29%, enquanto no conilon chega a 18% do potencial da safra.
"No caso do conilon, a indústria doméstica, antes muito agressiva por posições antecipadas, tirou um pouco o pé. O elevado comprometimento e realinhamento negativo na curva de preço de conilon interno justificam essa postura", comentou Barabach.
Segundo o consultor, nem mesmo as posições para a safra brasileira 2023 avançaram.
"A curva ascendente de preços tem feito o vendedor segurar as fixações. E até as operações de troca ("barter") estão paradas, com produtor apostando na alta do café e até em uma eventual queda no preço dos insumos", avaliou.
Assim, o potencial comprometimento da safra brasileira 2023 segue em torno de 9% e concentrado no arábica (12%).
(Por Roberto Samora)